terça-feira, 13 de novembro de 2018

PREVENIR O SUICÍDIO


Por Cleto Brasileiro Pontes
André Trigueiro, repórter da Globo apresenta o seu livro Viver é a melhor opção sobre o suicídio, assunto extremamente complexo que nenhum modelo teórico é capaz de abranger a sua compreensão. Ao pesquisar sobre o suicídio e a saúde mental em trabalhos como professor da UFC, busquei referências em centenas de livros sobre o tema, artigos científicos nacionais e internacionais etc., o que me levou a propor um modelo baseado nos princípios de que a infelicidade fundamenta a existência humana, o ser humano é paradoxal (absurdo em grego) e mais mimético do que racional.
Le Suicide, de E. Durkheim, foi o primeiro livro publicado sobre o assunto, embasado cientificamente ao ponto de transformar a Sociologia em uma disciplina no ensino universitário. Ele criou uma lei sociológica que aponta a taxa de suicídio inversamente proporcional a do homicídio. Encontrou dados e dados a mais, embora nenhum deles seja de valor universal, pois abre brechas às exceções. Ao comparar a estatística de suicídios entre a Espanha e a França, Durkheim levantou a tese de que a pobreza protegia o indivíduo de cometer esse ato. No Brasil, o nível de mortes violentas, somando "acidentes", assassinatos e suicídios é estarrecedor e nos vemos perdidos diante dos países civilizados.
Em visita à Oceania, recentemente, assistimos que a preocupação maior em termos de morte violenta entre os habitantes da Nova Zelândia e da Austrália é o alto índice de suicídio entre jovens. Nesse caso, a hipótese de Durkheim é super válida, pois a taxa de homicídios e "acidentes" de trânsito, por exemplo, é praticamente zero. Para os governantes desses dois países a segurança está em primeiro lugar. O inventor do jumping, o salto em altura, foi criado por um neozelandês com todo zelo quanto ao risco de acidente. O perigo no Brasil está nos profissionais, por exemplo, que criam estradas com a indicação de "curva perigosa" a torto e à direita. Por que não levou em conta a força centrípeta e centrífuga para evitar risco ao usuário?
Em 1909, o biólogo dinamarquês Wilheim Johannson criou os conceitos de genótipo e fenótipo, o primeiro reenviando ao valor da genética, hereditariedade e o segundo à influência do meio ambiente. Como médico não posso deixar de acreditar no futuro da medicina preditiva, mas ao pisar em terras da Oceania a crença arrefeceu. A Austrália é a maior ilha do mundo, e praticamente fundada em 1886 como uma ilha prisão, para onde os ingleses mandavam os criminosos, os sem eira nem beira, como uma forma de "higienizar" o país, principalmente Londres. Agora Sydney e Melbourne são cidades riquíssimas, limpas, de polícia desarmada, alto nível educacional. De violência, somente o suicídio se destaca como causa de morte. Lá sim, o suicídio merece uma atenção especial de estudiosos da saúde mental pública. Infelizmente, a saúde mental do brasileiro só vai melhorar com políticas públicas levadas a sério pelos gestores públicos e a erradicação da corrupção no fazer diário de atividades com o dinheiro público. Não terá milagres. Com transparência e controle social na gestão pública, todas as mentiras dos políticos em tempos de eleição não terão mais cabimento. Parece até ingenuidade pensar hoje o político viver sem mentir, mas também se deixar iludir com blá-blá-blás cabe ao cidadão deixar como coisa do passado.
(*) Psiquiatra e professor aposentado da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/10/2018. Opinião. p.29.

Nenhum comentário:

Postar um comentário