Por Cleto Brasileiro Pontes
André Trigueiro, repórter da Globo apresenta o seu
livro Viver é a melhor opção sobre o
suicídio, assunto
extremamente complexo que nenhum modelo teórico é capaz de abranger a sua
compreensão. Ao pesquisar sobre o suicídio e a saúde mental em trabalhos como
professor da UFC, busquei referências em centenas de livros sobre o tema,
artigos científicos nacionais e internacionais etc., o que me levou a propor um
modelo baseado nos princípios de que a infelicidade fundamenta a existência
humana, o ser humano é paradoxal (absurdo em grego) e mais mimético do que
racional.
Le Suicide, de E. Durkheim, foi o primeiro livro publicado sobre
o assunto, embasado cientificamente ao ponto de transformar a Sociologia em uma
disciplina no ensino universitário. Ele criou uma lei sociológica que aponta a
taxa de suicídio inversamente proporcional a do homicídio. Encontrou dados e
dados a mais, embora nenhum deles seja de valor universal, pois abre brechas às
exceções. Ao comparar a estatística de suicídios entre a Espanha e a França,
Durkheim levantou a tese de que a pobreza protegia o indivíduo de cometer esse
ato. No Brasil, o nível de mortes violentas, somando "acidentes",
assassinatos e suicídios é estarrecedor e nos vemos perdidos diante dos países
civilizados.
Em visita à Oceania, recentemente, assistimos que a
preocupação maior em termos de morte violenta entre os habitantes da Nova
Zelândia e da Austrália é o alto índice de suicídio entre jovens. Nesse caso, a
hipótese de Durkheim é super válida, pois a taxa de homicídios e
"acidentes" de trânsito, por exemplo, é praticamente zero. Para os
governantes desses dois países a segurança está em primeiro lugar. O inventor
do jumping, o salto em altura, foi criado por um neozelandês com todo zelo
quanto ao risco de acidente. O perigo no Brasil está nos profissionais, por
exemplo, que criam estradas com a indicação de "curva perigosa" a
torto e à direita. Por que não levou em conta a força centrípeta e centrífuga
para evitar risco ao usuário?
Em 1909, o biólogo dinamarquês Wilheim Johannson criou
os conceitos de genótipo e fenótipo, o primeiro reenviando ao valor da
genética, hereditariedade e o segundo à influência do meio ambiente. Como
médico não posso deixar de acreditar no futuro da medicina preditiva, mas ao
pisar em terras da Oceania a crença arrefeceu. A Austrália é a maior ilha do
mundo, e praticamente fundada em 1886 como uma ilha prisão, para onde os
ingleses mandavam os criminosos, os sem eira nem beira, como uma forma de
"higienizar" o país, principalmente Londres. Agora Sydney e Melbourne
são cidades riquíssimas, limpas, de polícia desarmada, alto nível educacional.
De violência, somente o suicídio se destaca como causa de morte. Lá sim, o
suicídio merece uma atenção especial de estudiosos da saúde mental pública.
Infelizmente, a saúde mental do brasileiro só vai melhorar com políticas
públicas levadas a sério pelos gestores públicos e a erradicação da corrupção
no fazer diário de atividades com o dinheiro público. Não terá milagres. Com
transparência e controle social na gestão pública, todas as mentiras dos
políticos em tempos de eleição não terão mais cabimento. Parece até ingenuidade
pensar hoje o político viver sem mentir, mas também se deixar iludir com
blá-blá-blás cabe ao cidadão deixar como coisa do passado.
(*) Psiquiatra e professor
aposentado da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/10/2018. Opinião. p.29.
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