Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Desde
quando McLuhan, na década de 1960, estabeleceu o conceito de Aldeia Global,
vivemos às turras entre desenvolvimentos do real concreto (levar a vida) e do
real abstrato (pensar a vida) e entre uns e outros. Ficou claro, aos poucos,
que o globo não se comportaria como uma aldeia, socialmente homogênea, próxima
da experiência de família, clã ou tribo, com território ampliado ao planeta.
Vimos
a mudança do critério organizador da ideia de aldeia, mantendo o mesmo ar de
marasmo, mas reordenada por faixa etária, hábito de consumo, profissão de
crenças esquemáticas (lógicas do slogan e da partidarização) etc.
Multiplicaram-se aldeias a testarem fronteiras entre si, sem nascerem, ou sendo
violentados ao nascer, sistemas democráticos globais. O lema do século XIX,
"trabalhadores de todo mundo, uni-vos", teve a universalização do
trabalho superada pela universalização do capital, que se beneficia das crises
de toda ordem e dos avanços tecnológicos, reprodutores dos modos de pensar.
Diante
do capitalismo financeiro globalizado e da fragmentação belicosa da webesfera
em aldeias desterritorializadas ideologicamente, ou reterritorializadas por crenças
esquemáticas, explicações passionais de como levar a vida, nos colocamos diante
de outra pergunta: como a experiência da informação em tempo real, filtrada por
algo/alguém com poder de filtro, ou a experiência das guerrilhas virtuais, com
assassinatos no mínimo simbólicos dos que forem diferentes de narciso, pode
afetar nossa consciência?
A
consciência tem pelo menos quatro faces, sempre misturadas: a consciência para
os outros, isto é, a personalidade, que pode ser conservadora (identidade) ou
inovadora (criatividade), e a consciência para si, isto é, a subjetividade, que
também pode ser identitária ou criativa. Considerando-se este esquema fluido,
sem estatuto de forma ou de lei, quais reações, imediatas e mediatas, podem ser
identificadas frente à pandemia da COVID19, a 1ª do mundo globalizado?
Diante
do nenhum ou pouco saber, esquecidos das epidemias anteriores registradas na
história, manipulados por interesses econômicos e/ou político-eleitorais, vamos
criando, nas ruas e na internet, nas campanhas eleitorais e na busca de
hegemonia midiática, alguns padrões de reação: os mais primitivos e perniciosos
são, num extremo, o negativismo e, no outro, a afirmação belicosa de uma
ignorância. Entre os extremos, quatro destaques: instintuais reacionários, instintuais
progressistas, intelectuais reacionários e intelectuais progressistas.
Haja
tribo a buscar hegemonia no discurso das redes de comunicação de massa, sempre
reducionistas ao slogan pela busca da maior cobertura; no discurso das bolsas
de valores e dos chamados mercados, desterritorializados; e no discurso
político-partidário; todos em crise, apartados das práticas por trás dos
discursos. As igrejas, que poderiam oferecer conforto privado, disputam o
mercado político-partidário. Enquanto isso, o indivíduo sofre o destino de bola
de tênis de mesa, para lá e para cá, parecendo folha morta, mas com o
sofrimento próprio do humano perdido na floresta.
(*) Professor titular de
Saúde Coletiva e Ex-reitor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/12/20. Opinião, p.21.
Nenhum comentário:
Postar um comentário