Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Imaginemos
que a primeira-ministra da Dinamarca chegou de surpresa ao Rio de Janeiro em
22/12/20. Dirigiu-se ao concierge do hotel e, ao manifestar seu desejo de falar
com o prefeito, foi informada ser impossível.
"Por
quê?", perguntou. "Ele acaba de ser detido." A visitante
indagou: "E o governador?". "Não vai dar." "Por
quê?". "Está afastado, com impeachment em andamento, e, pelo visto,
poderá ser um preso que foi juiz e também governador." "E o
substituto que assumiu?". "Eu a aconselho a ir rápido, pois o vice
Cláudio Castro tem processo nas costas, e houve uma operação de busca e
apreensão em sua casa."
Em
entrevista à revista Veja, Castro declarou ter sido convidado a ser o segundo
de Witzel por exclusão. Afirmou ele: "Estavam em busca de uma pessoa com
certa densidade de votos, que não falasse besteira, fosse minimamente preparada
(…) Virei vice porque não tinha outro."
"Então,
quero falar com um dos últimos que estiveram à frente do Governo", disse a
turista. "Dos cinco anteriores eleitos, um é o ex-juiz, em vias de ser
impedido. Outro está preso e, conforme a mídia, relatou já na prisão:
'reconheço que exagerei na mão'. Os três restantes foram todos detidos e,
atualmente, aguardam o julgamento em liberdade."
A
primeira-ministra, ao observar o caos na política, na segurança e nas finanças
públicas do Estado, ficaria perplexa ao compará-lo com seu país.
Contudo,
há inúmeros bons fluminenses que poderiam reverter o quadro. Talvez, a impunidade
reinante há tempos tenha levado o Brasil a uma crise moral, com ênfase no Rio.
Ademais, o antigo status de Capital do País, a ambientar as decisões nacionais,
o título de Cidade Maravilhosa, a Lei de Gérson (levar vantagem em tudo) e o
glamour do município podem ter contribuído para o atual contraste entre a
corrupção e a beleza natural do Rio. Alguns cariocas não souberam dosar bem
trabalho e lazer e esqueceram a importância do voto.
Já
é hora de os cidadãos brasileiros se arregimentarem, não para invadir
legislativos e desvalorizar o precioso sufrágio, como fizeram nos EUA, senão
para escolher, pelo voto, estadistas, e não populistas.
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
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