Fala-se que, nos idos dos anos sessenta, na sede do Quartel-General de uma Região Militar, diariamente, fazia-se a troca da guarda posicionada diante de um banco de uma pracinha interna.
Um novo comandante, que assumira o comando militar local, achou
estranho que, durante as 24 horas, havia sempre um soldado armado, com
revezamento em certas horas do dia, de modo a deixar sempre um recruta ali, de
prontidão, defronte ao dito banco.
Como era um recinto intramuros e sem qualquer sentido estratégico
ou de segurança do edifício, o comandante indagou de um oficial de gabinete
qual seria a razão daquela guarda permanente postada em frente ao banco, sendo
informado por seu subordinado de que, desde quando chegara para servir nessa
cidade, aquele procedimento já estava em curso.
Em vista disso, o general-comandante determinou ao seu chefe de
gabinete que fizesse uma investigação com o fito de descobrir a ordem original
que resultara na aplicação daquele proceder diário.
Como não encontrara nas pastas de arquivos recentes, qualquer
indicativo da ordem em questão, e nem mesmo os veteranos sabiam quando aquilo
começara, o diligente chefe de gabinete debruçou-se a pesquisar o arquivo-morto
da instituição, e, depois de muito procurar, conseguiu achar o dito documento
seminal.
A ordem de serviço, baixada
Só que esse oficial se esqueceu de firmar a duração da medida, e
como ele teria sido logo transferido para outra unidade militar, a troca de
guarda para vigiar um mero banco prosseguiu por anos a fio.
Nota: Essa estória é antiga e
muito conhecida, tendo uma variante, provavelmente a verdadeira, situando o
fato em um quartel comum, que diz que o novo comandante fora o próprio oficial
do dia que cumprira a ordem editada no BI, quando era tenente, e depois de
muitos anos, passando por outras cidades, galgando, ao longo do tempo, as
promoções na carreira militar, e voltara para comandar, agora com a patente de
coronel, a mesma unidade militar, quando verificou que sua ordem seguia
vigendo.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ordinário, marche! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2015. 112p. p.79-80.
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