Por Fabiano Piúba (*)
Não
estamos entendendo nada. O vírus não é apenas a Covid-19 ou
novos que estão por vir. O vírus somos nós.
Sugiro
uma suspensão. Um exercício de afastamento do Planeta Terra, como se fôssemos
um astronauta ou mesmo a Estrela Dalva. Vista de longe, na "Hipótese
de Gaia" pensada em 1969 pelo químico James Lovelock, a Terra é
um organismo vivo que respira e se auto regula.
O
yanomami Davi Kopenawa, lá do fundo da mata, vai além num alerta para a humanidade:
"Acho que vocês deveriam sonhar a Terra, pois ela tem coração e respira.
(...) A floresta respira, mas os brancos não percebem. Não acham que ela esteja
viva". A Terra precisa respirar.
O
livro "A queda do Céu" soa como um recado. Por que estou
fazendo essa associação entre as palavras de Kopenawa e o contexto da pandemia?
Porque não deixa de ser amargo que a Covid-19 venha nos matando sem fôlego, nos
deixando sem respirar.
Seria
um recado da Mãe Terra diante da devastação do mundo causada
pelo vírus humano? Essa conexão não deixa de ser instigante. Repensamos nossa
relação com as outras espécies e com a natureza ou nos afundamos nessa
catástrofe planetária em que estamos metidos.
Desenvolvemos
o espírito solidário no compartilhamento das culturas e das economias geradas
ou estamos fadados ao fracasso físico e espiritual como seres
humanos. Nós, que ameaçamos tantas espécies, seremos extintos.
Estamos
em meio a uma pandemia, mas parece que continuamos celebrando o "Ano
Novo", desdenhando da ciência e desfilando sobre mais de dois
milhões de pessoas no mundo, que não respiram mais conosco o ar que a
Terra ainda nos oferece. Ainda, porque o ser humano - esse vírus devastador - tem
sufocado a Terra e a si mesmo.
O
que nos resta de ar e de esperança é de que o antivírus somos
nós mesmos. Davi Kopenawa, por exemplo, é um antivírus. Só nós podemos
fortalecer o sistema imune de nossa natureza humana, espiritual e amorosa,
produzindo anticorpos contra esse ciclo devastador humano que tem infectado sua
própria Mãe Terra. Que sobreviveria sem nós, mais verde e mais azul. Porém, Ela
nos ama tanto, que não desiste de seus filhos. Seja uma árvore, um pássaro, um
felino, um inseto, um peixe ou uma menina.
(*)
Gestor cultural, poeta, historiador,
doutor em Educação e secretário da Cultura do Estado do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/02/21. Opinião, p.34.
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