sexta-feira, 16 de abril de 2021

Crônica: “Besteira muito grande demais da conta! Guâ!” ... e outros causos

Besteira muito grande demais da conta! Guâ!

O bicho de urêa mais exagerado ("disagerado") do mundo: o cearense. Cabeça de nós todos - quengo que é um setenta, aloprado de A a Z, a bolacha do joelho é ver uma bacia, dessas que galego vende na rua. E multiplique por 10 e eleve à quinta potência, depois ao quadrado. Cearense, no tocante a aumentar as coisas, é o que a moçada chama de "top das galáxias", só que no estilo cão chupando manga ou comendo mariola, superdimensionando tudo que vê e fala. E sente e cheira.

Cearense gosta de "omentar", pois. Deve ter surgido por essas plagas a lorota de que "quem conta um conto aumenta um ponto". A negada aumenta e é com gosto de gás. Se o mancebo (amasso) é grande demais entre o casalzinho, os dois estão "ajojados", agarrados à moda soinho na resina. Se é chegado a uma fulerage, só aprende o que não presta. Se vive se abrindo, "acha grossa, né?" Se não vale um cibasol, "aquilo é uma pustema!"

Superlativamente fuleiro

Pro cearense, é tudo grande demais, que nem presta, um absurdo de coisa imensa, do papôco, altamente traquejado. Pois aqui é pra ver as bandas, do caneco rodar, de arrancar o chaboque e se pebar, de arrombar mêi mundo. Se é inteligente, é caba desenrolado, tarimbado, só o pó da macaúba. Se é pequeno, é só um cotoco de gente (mêi pão, escada de tirar maxixe, torado no grosso) - da falange de Zaqueu.

Se é do bom e chega cedo, é homem que Deus guarda; se é falante, fala mais que o homem da cobra. Se é corno contumaz, diz-se que tem chifre até nos pés, à moda galo. Se é esnobe, é pabo feito a peste, um "estropício" pra mais de milisseiscentos diabos! Se almoça e janta igualmente um esmeril da França, "come aos brubitão" (em "vadiação pesada"). Se é muito do sem futuro, "caba mais besta esse!". Com muito medo, "tá com o carretel que não cabe um côco".

Exagerado todo, pros caba aqui de nós algo muito grande é feia lapa medonha, que nem tampa de rural. Se tem mais de três panos de bunda (calças), tem um mundaréu de roupa; se muito sabido, é "mitido a esperto"; se sabe se virar na vida é cavadozim que é uma beleza. Se alguém o vê rindo à toa, o outro chega frescando e quebra o serviço, dizendo: "Se abra não!" Se é de má qualidade, é "muito do tabaca". Se é o que há de melhor em matéria de coisa e tal, é de "cagar e ver a ruma".

Em risco dum ataque cardíaco de fome!

A propósito, o poeta dos Cachorros Jair Moraes exemplifica essas exagerações em recado de áudio no zap que transcrevo com alguma dificuldade. Só pra contextualizar: toda madrugada, algum sem futuro deixa na calçada da casa dele, ao ar livre, um despacho malcheiroso. Não vale botar placa com "pedido de colega, facissonão!" Taí ele feito siri numa "latra", impotente diante "do fela da tampa".

Fonte: O POVO, de 18/09/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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