domingo, 30 de maio de 2021

VARRENDO AS NUVENS PRESIDENCIAIS

O senhor Lula da Silva assumiu a Presidência da República do Brasil em 2003. Ainda no primeiro ano da administração petista, o Sr. Lula ficou maravilhado com os voos internacionais e embevecido ao ser recebido por reis, rainhas e governantes de outros países. A aeronave herdada do governo anterior, mais conhecida por “Sucatão”, apesar de sua utilidade e da garantia de uso para mais alguns pares de ano, não possuía maior autonomia de voo, exigindo escalas para abastecimento, quando em longos trajetos, com o agravante de não ser muito luxuosa.

Apesar de saber que dirigentes de algumas das nações mais prósperas não dispõem de equipamento próprio para alçar voos, evitando imobilizar capital e gastos correntes de manutenção, e fazem uso normal de aviões de carreira, a vontade da Presidência do Brasil foi imperativa, determinando a compra de um avião mais moderno.

Na época, além de alijar a Embraer do processo licitatório, desprestigiando a notória competência nacional, no campo da concepção e da montagem de aeroplanos de médio porte, o governo optou por privilegiar uma concorrente estrangeira e também por pagar, com o dinheiro do sofrido contribuinte brasileiro, uma exorbitante soma de US$ 55 milhões. Tal valor foi sobejamente majorado pela inclusão de itens de requinte, com um luxo ostensivo, digno de um abastado “sheik” possuidor de poços de petróleo que, no caso, “torra” o seu próprio dinheiro e não o do povo.

O avião da Airbus, um modelo A319CJ, foi produzido e montado em Hamburgo, na Alemanha, já com a pintura de VC1A da Força Aérea Brasileira (FAB), e batizado oficialmente de Santos-Dumont, mas ficou conhecido por “Aerolula”, apelido derivado do capricho presidencial do então dirigente do País.

A tripulação do “Aerolula” é formada pelo Grupo de Transporte Especial (GTE) da FAB, sendo comandada por oficial de alta patente da Aeronáutica, no caso, ocupante do posto de tenente-brigadeiro do ar, o que se induz pensar que o piloto conduza a aeronave em céu de brigadeiro.

O apego de Lula em cruzar os céus, a bordo de um luxuoso equipamento, prenhe em conforto e iguarias, não era menor do que o medo presidencial quando se experimentava turbulências aéreas, ainda que de pequenas magnitude e duração.

Conta-se que, em um episódio de turbulência, o Sr. Lula, tomado de pavor, acionou o botão da sua poltrona que permite chamar o comandante, com quem travou a seguinte conversa:

– O que é isso, companheiro? O que está acontecendo?Indagou o presidente.

– São turbulências, presidente – respondeu o brigadeiro.

– Por que isso está ocorrendo? – Perguntou Lula.

– O céu está bastante nublado. Há muitas nuvens pela nossa frente provocando essas turbulências – explicou o piloto-mor.

– Pois eu quero que você retire essas nuvens da frentedeterminou Lula.

– Como, Sr. Presidente? – Quis saber o comandante, achando a ordem estranha.

– Vá lá fora! Dê um jeito de tirar essas malditas nuvens da nossa frente – cobrou o assustado presidente, já temeroso de ganhar um “paletó de madeira”.

O brigadeiro, que gozava muito da afeição presidencial, arrematou:

– Só se eu for lá fora com uma vassoura para varrer essas nuvens, presidente. O problema é que não temos aqui uma “vassoura” apropriada para isso.

Não foi necessário, no entanto, recorrer aos préstimos de uma vassoura ou de um mega espanador atmosférico porque as nuvens se dissiparam naturalmente, pondo fim às tão temidas turbulências presidenciais e logo o “Aerolula” passou a sorver um “céu de brigadeiro”.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Fora de forma! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2020. 128p. p.68-70.


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