quinta-feira, 3 de junho de 2021

SONHAR ACORDADO COM O FIM DO PESADELO

Por Marcelo Alcântara Holanda (*)

Convido o leitor a sonhar acordado o fim do pesadelo pandêmico. Acreditem, ele terminou em parte para os mais de 250 mil profissionais de saúde que receberam as duas doses da Coronavac no estado do Ceará.

Neste grupo não houve segunda onda, nem precisa haver uma terceira ou quarta. Sim, a solução passa pelas picadas indolores e gentis de ciência nos nossos braços.

Todos testemunhamos a omissão do governo federal nessa área e o imenso custo social envolvido. Ainda acordo todos os dias sobressaltado checando o estado de saúde dos meus pacientes, amigos e familiares no celular, sem paz.

Mas algo tem dado certo. Ainda bem, somos uma federação. O PR nega a pandemia e aposta até hoje, em cloroquina e outras drogas usadas precocemente como se médico e sanitarista fosse. Tem apoio entre parte da classe médica e da população, algo impressionante e desolador.

Por outro lado, há governadores e prefeitos antenados à realidade e à ciência conduzindo o enfrentamento à Covid-19 de modo responsável.

No Ceará, avançamos em números de leitos de UTI e de hospitais em todas as regiões, em disponibilidade de ventiladores mecânicos, em inovação (IntegraSUS e o capacete Elmo como exemplos) e no esforço de vacinação.

Temos reduzido a taxa de letalidade e aplicado de forma equitativa as doses de vacinas enviadas a conta-gotas. Temos publicado artigos científicos de peso, compreendido o papel da imunização na Pandemia, e sabemos o que e como fazer para reduzirmos o impacto social da pandemia.

Falta-nos a política federal, o poder central, a liderança nacional sábia, cordial, técnica, agregadora, capaz de unificar o país.

O Brasil caminha célere para o vexaminoso título de pior país do mundo no enfrentamento à pandemia. Dá pra virar o jogo.

Precisamos parar de acreditar em falsos mitos. Trazer a razão de volta ao centro dos debates, banir a truculência das crenças e pregações descabidas que impedem qualquer diálogo construtivo.

É hora de sonharmos com um Brasil e um mundo livres da atual pandemia e mais preparados para lidarmos com as inevitáveis que virão.

Respeitando as leis e a constituição temos que remover o atraso que está no poder e delinear novos rumos com base em ciência, tecnologia, inovação e solidariedade num novo pacto social. Não no futuro, mas agora, hoje, já!

(*) Médico. Professor da UFC. Superintendente da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/04/2021. Opinião. p.17.

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