sexta-feira, 4 de junho de 2021

Crônica: “Focinheira” ... e outros causos

Focinheira

Se o amigo pensa que aqui se trata da “Correia que se põe no focinho de animais, especialmente os cães, para impedi-los de morder ou comer”, ó o dedim! Nesses tempos atuleimados de pandemia, focinheira ganhou um sentido que só a mundiça aqui de nós seria capaz de registrar. Pra falar de focinheira, contudo, será preciso dedicar alguns parágrafos ao focinho e ao FUCIM. No bodejado cearense, FUCIM ganha conceito quase diverso de focinho, algo menor. Senão vejamos.

No dicionário valendo (oficial – coisa da academia), focinho é a “parte saliente e anterior da cabeça de alguns animais formada pelas ventas, boca e queixo; o rosto do homem”. Em cearês castiço, pra começo de conversa, deixamos de lado o focinho e adotamos o FUCIM, que compreende a taba do quêxo; o pau da venta com buraco, cabelo e tudo; e a cancela da boca, aí incluídos os beiços e adjacências. FUCIM que é pra pantim, guaxinim, pirrototim, bacurim...

Viajando na questão – e por extensão, meter o FUCIM equivalerá a ser abiúdo (abelhudo), se intrometer nas coisas, penetrar nos prolegômenos apologéticos. Nesse particular, oportuno se faz trazer à baila um inseto demais invocado da nossa pacífica Mata Atlântica – o “bisôro mangangá”. Mangangá é aquele besourão medonho “de abdome largo e piloso, de coloração negra e amarela, mede cerca de 30mm de comprimento”. A ferroada do cão dum inseto desses dói que feito a peste. No “mole do FUCIM” dum cachorro, então, endoida o póbi.

E um cristão com “cara de cachorro mijando na chuva”, o que tem a ver com a essa conversa aparentemente “disapulumada”? Tudo, e mais uma coisinha! O cara de cachorro urinando no sereno é o caba encalistrado, envergonhado, todo errado, sem saber onde botar o FUCIM. Adere, ao demais, com fuçar, ou seja, fossar: revolver (a terra) com o FUCIM ou a fuça; remexer, futricar, escacaviar; sondar, investigar. E meter a paiêta (palheta)? É meter a colher, meter o canudo, meter o FUCIM. E o termo "imprial", o que vem a ser? Igual, assemelhado, taliqual, cagado e cuspido, que nem, a cara dum é o FUCIM do outro, “mesmo que tá vendo”.

E o que tem a ver com as calças?

Uma neta da minha amiga dona Mirian ia saindo de casa sem a máscara (“objeto de diferentes formatos que cobre o rosto”), essa aliada de peso na prevenção ao novo coronavírus, quando ouviu foi o grito da avó:

- Sâmia!!! Tu quererá morrer, nó cego?

- Beisso, vó?

- Quedê a fucinhêra?

- O que, vó?

- A "mascára", doidinha do pão!?!

Os EUA e as reações no Planeta

O que aconteceu nesse dia 6 de janeiro de 2021 no Capitólio foi deveras único. Razão por que destaco dois aspectos que chamaram a atenção do povo aqui de nós, ante o inusitado das cenas lamentativas exibidas pela TV. Papelão! Ainda estou sem acreditar no que vi e ouvi. Que queixas eu tenho? Ei-las:

1 – O grito de desagrado que disparou o vizinho de um tio meu no Henrique Jorge, que, embasbacado com o que viu, disparou: “Queima, raparigal!!!”

2 – E o nó que deu na cabeça de dona Mercedes, na Itaoca, ao ver um louro à força de chifre fazendo "imbuança", enchendo a senhora de dúvidas: “E foi no Zé Walter, isso?”

Fonte: O POVO, de 8/1/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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