Afinal, de onde
veio a sopa?
Juízo
'friviando de poblema' (modernidade, pandemia, política enviesada, liseira e
caé estão arrombando), o amigo Mainha Monteiro buscou o concurso das terapias
alternativas para resistir bravamente aos achaques depressivos - e se deu bem.
A ferramenta terapêutica? Meditação. Foi onde se reencontrou consigo.
Devidamente
orientado sobre o que e como fazer, começou a prática há dois anos e hoje
cremos curado, logrando muitíssimo bom êxito em todas as empreitadas
mergulhativas interiores que faz, ao contatar seu eu profundo em altas buscas
interiores. Mas há algo que o encabula Mainha.
Ele
relata que quando se encontra em plena viagem astral, embalado por mantras
hindus dos mais catárticos, ao ver-se aproximando-se de si, fala com relativa
tristeza para ele mesmo:
-
Arre égua! Lá vem eu de novo!
A emenda...
Sábado
lembra o quê? Feijoada, respondemos todos que amamos um feijãozinho no
gabarito. E lá eu fui com uma 'réca' de gente pro restaurante recém-inaugurado.
'Éramos em 12'; seis porções dariam - uma pra cada dois bichos de urêa. Após
longa espera, pratos chegam, e começamos a matar quem nos matava.
Ocorre
que na travessa de Raimundo Nonato havia um cabelo de tamanho médico - três
centímetros, digamos, e o desconforto na mesa foi generalizado. Raimundo, uma
fome medonha, grita pela garçonete e verbera já meio esverdeado:
-
Olhe aqui, dona Maria! Um cabelo! Arre ema!
-
Bem, senhor... É! Peço desculpas... - falou a moça, sem saber onde botar a
cabeça.
-
E agora? Hein? E agora?
-
Bem, senhor... É! Peço desculpas... - reforçou a moça
Que
sai do salão com o prato de feijoada na mão em busca da cozinha. Daqui a pouco
ela está de volta. Mas, ao tentar explicar o fato pouco higiênico de há pouco,
piora ainda mais a situação do restaurante, em matéria de fama.
-
Senhor, não sei o que aconteceu, sinceramente!
-
Pois é - disse mais calmo Raimundo. Nem eu!
-
Fui à cozinha reclamar e posso lhe garantir: nosso cozinheiro é careca!...
Enciclopédia da
Fala Cearense
O
livro de nossa autoria com tudo da fala cearense (após 44 anos de fuçando a
paciência do povo) tá saindo por esses dias. Enquanto engomo a calça, vamos - a
pedidos - adiantando duas ou três coisinhas para o conhecimento de vocês:
-
Camisa com medo de peido - Camisa que fica lá em cima dos quartos do usuário.
-
Falso que só tábua de fojo - Pessoa que não é das mais autênticas. [Fojo é a
armadilha de pegar preá; na abertura da geringonça, à pisada leve do roedor, a
tala de madeira se desloca facilmente pra baixo, e o bicho cai lá dentro.]
-
Fazer ouvido de sentina de trem - É a conversa da pessoa lá, entrando por um
ouvido e saindo pelo outro do interlocutor; não estar nem aí, não dar a mínima.
-
Idade de bater bosta - Idade avançada, senilidade.
-
Igual à mãe de São Pedro pra entrar no Credo - Quando a pessoa quer entrar à
força no quer que seja, de modo forçado.
-
Madrinha de apresentar - A que sustenta a criança (e segura a vela) no ato do
batismo.
Fonte: O POVO, de 20/8/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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