terça-feira, 5 de outubro de 2021

A MÁ CAMPANHA NO ESTÁDIO PRESIDENTE VARGAS

Nos idos de março de 2020, tão logo apareceram os primeiros casos de Covid-19 no Ceará, as autoridades sanitárias cearenses, diante do prenúncio da disseminação da pandemia, envidaram esforços no intuito de ter mais leitos para o cuidado dos pacientes que demandariam por hospitalização.

Em 2/04/2020, o jornal O POVO deu guarida ao artigo intitulado "Leitos para a pandemia por coronavírus" (Opinião. p.12), que sinalizava a existência em Fortaleza de vários hospitais privados desativados, como o Pronto Socorro dos Acidentados e o Hospital dos Arrumadores, e outros tantos filantrópicos com enfermarias ociosas, a exemplo da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e do Hospital Batista Memorial, com leitos não habilitados pelo Sistema Único de Saúde.

A absorção dessa capacidade hospitalar subutilizada, mercê dos parcos repasses do SUS por serviços prestados, cujos valores não cobrem as despesas das hospitalizações, poderia adicionar cerca de mil leitos para o enfrentamento da pandemia.

Meritórias foram as ações do governo estadual de alugar o Hospital Leonardo da Vinci, pertencente à iniciativa particular, que estava concluído, mas não fora inaugurado, reservando-o exclusivamente ao cuidado de pacientes com Covid-19, assim como de instalar anexos, com capacidade de 50 leitos cada, em quatro hospitais públicos de referência estadual.

Os dirigentes de um hospital da capital, cientes da responsabilidade social como ente filantrópico, puseram parte das suas enfermarias à disposição da Prefeitura de Fortaleza, que enviou técnicos para avaliar as condições dessa oferta, que não chegou a ser positivamente concretizada porquanto a municipalidade optou pela montagem de um dito "hospital de campanha" no Estádio Presidente Vargas.

Em que pese o clamor das vozes discordantes, a Prefeitura de Fortaleza levou a cabo a sua decisão de armar um empreendimento, de caráter temporário, que tem sido torpedeado por uma avalanche de denúncias, relacionadas à malversação do dinheiro público, alvo de investigação de instâncias de controle social, e à sua baixa operosidade, uma vez que, em cinco de meses de funcionamento, admitiu tão somente 1.165 pacientes, algo como uma média mensal de 225 pacientes em seus 204 leitos, a um custo per capita exorbitante.

Os fortalezenses aguardam as devidas explicações dos seus gestores de então.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Professor titular de Saúde Pública-Uece

Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/10/21. Opinião, p.23.

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