Nos idos de março de 2020, tão logo apareceram os primeiros
casos de Covid-19 no Ceará, as autoridades sanitárias
cearenses, diante do prenúncio da disseminação da pandemia, envidaram esforços
no intuito de ter mais leitos para o cuidado dos pacientes que demandariam por
hospitalização.
Em 2/04/2020, o jornal O POVO deu guarida ao artigo intitulado
"Leitos para a pandemia por coronavírus" (Opinião. p.12), que
sinalizava a existência em Fortaleza de vários hospitais privados desativados,
como o Pronto Socorro dos Acidentados e o Hospital dos Arrumadores, e outros
tantos filantrópicos com enfermarias ociosas, a exemplo da Santa Casa de
Misericórdia de Fortaleza e do Hospital Batista Memorial, com leitos não
habilitados pelo Sistema Único de Saúde.
A absorção dessa capacidade hospitalar subutilizada, mercê dos
parcos repasses do SUS por serviços prestados, cujos valores não cobrem as
despesas das hospitalizações, poderia adicionar cerca de mil leitos
para o enfrentamento da pandemia.
Meritórias foram as ações do governo estadual de alugar o Hospital
Leonardo da Vinci, pertencente à iniciativa particular, que estava
concluído, mas não fora inaugurado, reservando-o exclusivamente ao cuidado de
pacientes com Covid-19, assim como de instalar anexos, com capacidade de 50
leitos cada, em quatro hospitais públicos de referência estadual.
Os dirigentes de um hospital da capital, cientes da
responsabilidade social como ente filantrópico, puseram parte das
suas enfermarias à disposição da Prefeitura de Fortaleza, que enviou técnicos
para avaliar as condições dessa oferta, que não chegou a ser positivamente
concretizada porquanto a municipalidade optou pela montagem de um dito
"hospital de campanha" no Estádio Presidente Vargas.
Em que pese o clamor das vozes discordantes, a Prefeitura de
Fortaleza levou a cabo a sua decisão de armar um empreendimento, de caráter
temporário, que tem sido torpedeado por uma avalanche de denúncias,
relacionadas à malversação do dinheiro público, alvo de
investigação de instâncias de controle social, e à sua baixa operosidade, uma
vez que, em cinco de meses de funcionamento, admitiu tão somente 1.165
pacientes, algo como uma média mensal de 225 pacientes em seus 204 leitos, a um
custo per capita exorbitante.
Os fortalezenses aguardam as devidas explicações dos
seus gestores de então.
Marcelo Gurgel Carlos
da Silva
Professor titular de
Saúde Pública-Uece
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/10/21. Opinião, p.23.
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