sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Crônica: “M de maravilha! B de Beleza!” ... e outro causo

M de maravilha! B de Beleza!

Telefone de "numeral" desconhecido toca, é a voz conhecida do Jair Poeta dos Cachorros Moraes, que me toca o íntimo de alegria. Falar com ele alivia tensões, amigo-irmão demais animado. O grande artista da Vila União inspira; pra mim, é bem-vinda presença no enfrentamento à tosse de cachorro renitente e ao aguaceiro no pau da venta que ora me acomete. Careço de espairecer, de me abrir com as "mungangas" do Jair.

Já me sentindo contagiado pelo bom-humor do notável líder da Banda Marmota, só de ouvir-lhe a voz ao celular, me esforço em suavizar o bodejado febril. Atacado de murrinha nascida do estalecido-19 (essa vontade medonha e infame de me lascar), acredito que a cada dia bastam as suas catrevagens. Por isso, me encho de boa vontade.

- E a vida, meu poeta?

- Uma "M"! E o mundo, uma "B"!

- Já te conheci mais otimista! - imaginei o pior.

- Conversa é essa, patrão! A vida é uma Maravilha, o mundo é uma Beleza!

Pedi, então, contasse as novidades, uma historinha pra me fazer rir, naquela ligação. Contou a dos "Três Reis Magros". Até imaginei Jair fazendo "boca de riso" ao falar de um tal Zé Coivara, bebinho que estava a um canto da bodega, isolado, ouvindo a explanação professoral de dois colegas de cana (o Olavo Maré e o Tito Cancão) acerca do nascimento de Jesus: a profecia, a noite de estrelas, José e Maria, Nazaré da Galileia. Zé, sem ficha, doido pra entrar no papo.

Vez ou outra levantava o braço, pedia aparte, mas os companheiros se faziam de rogados, dando suas versões sobre o episódio da chegada do Salvador ao Planeta. Agora, em pauta, a estrela-guia, a manjedoura, os animais, os pastores, os Três Reis Magos... Pronto, Coivara não podia desperdiçar a oportunidade. Ficou de pé e gritou: "Pedido de colega, deixa eu falar agora?!?" A moçada, empolgada na contação, nem aí pra ele.

Quando Olavo Maré e Tito Cancão metiam já na confusão o Herodes, a fuga do menino Jesus pro Egito no lombo do jumento, Zé Coivara, tomado de espírito altamente incensado e mirrado, dá uma chibatada na mesa e manda:

- É sobre os três reis magros que eu preciso falar, ora piula!!! Conheço eles!!!

- Eles quem?!? - indaga Olavo Maré, demais interessado.

- Magão, Maguim e Mago Véi!

A "M" explosiva

Deu-se em Cedro. Juceza contou e eu acredito. Um homem bom, por nome Pedro (Pedro Gago, por razões óbvias), desempregado, buscou trabalho na casa de um senhor de posses, o Edgar. Que nada tinha a oferecer de mais digno na ocasião para o moço desventurado faturar algum. Mas, peraí!

- Pedro! Lembrei que a fossa da casa lá de cada tá cheia! Te astreve a disgotar?

- Eu tenho escolha, seu Edgar? Bora justar a impeleita! É tanto!

- Fechado!

Disgotamento marcado pra meia noite do mesmo dia. Pedro foi municiado de enxada, pá e picareta, litro de cana, balde e corda, lamparina grande e querosene. A luz bruxuleante do candeeiro alumiava o ambiente, enquanto o simpático gaguinho "mergulhava" no que fazer lá embaixo. Três da manhã e, porque onde estava não era possível divisar o quanto de "M" havia ainda pra disgotar, o humilde servidor sobe à superfície, pega a lamparina do pavio graúdo aceso e estica o braço com ela fossa a dentro.

Marrapaz! Pense numa explosão grande demais! Pedro Gago grita de dor, cheio de queimaduras. "M" é gás puro. Socorrido pelo povo da casa de seu Edgar, é levado ao hospital. Explica ao médico o ocorrido, e arremata empapocado:

- Ô seu Edgar da bosta explosiva! Eu lá sabia que aquele hômi comia gasolina!

Fonte: O POVO, de 21/01/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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