segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O “BOOM” DAS ESCOLAS MÉDICAS NO BRASIL

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

NESTE MOMENTO DE PANDEMIA (COVID-19) FICOU EVIDENTE QUE O CRESCIMENTO DESMESURADO DE ESCOLAS MÉDICAS LEVOU A UM POUCO/DEFICIENTE PREPARO E TREINAMENTO DA GRANDE MAIORIA DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE: ENFERMAGEM. FARMÁCIA. FONOAUDIOLOGIA MEDICINA. ODONTOLOGIA. PSICOLOGIA. FISIOTERAPIA. TERAPIA OCUPACIONAL.

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O Brasil tornou-se o segundo país com mais escolas médicas:

Índia – 381 Escolas Médicas (população 1.210.569.573).

Brasil – 303 Escolas Médicas (população 201.032.000).

China – 150 Escolas Médicas (população 1.354.040.000).

Em 1997, tínhamos 85 escolas médicas. Em vinte anos, mais do que triplicamos esse número, graças à explosão das escolas particulares que hoje correspondem a mais de 60% do total e cobram mensalidades de R$5 mil a R$16 mil por aluno.

De 2000 a 2015, foram criadas 142 escolas médicas: 51 públicas e 91 particulares. Em dezembro de 2017 havia 303 escolas médicas, das quais 172 eram particulares, 78 federais, 35 estaduais, 16 municipais e 2 públicas, somando 29 753 vagas oferecidas anualmente.

No estado de Pernambuco, no ano em que me graduei, existiam apenas 2 escolas de Medicina, uma Federal e a outra da FESP (Fundação do Ensino Superior de Pernambuco), depois pertencente à UPE (Universidade de Pernambuco). Atualmente não saberia informar o número delas em meu Estado.

Neste momento vivemos, quando o assunto é escolas de Medicina, exatamente como os EUA há 100 anos. Naquela época, o governo criou uma comissão chefiada por Abraham Flexner (1855-1959) para visitar e elaborar um relatório sobre as 155 faculdades de Medicina existentes no país e no Canadá. O resultado foi o fechamento de muitas dessas instituições e convenceu o Governo e a sociedade da necessidade de financiar e monitorar as melhores instituições. Ao fim de seu relatório, Flexner escreveu: “As escolas médicas eram essencialmente iniciativas privadas cujo espírito e objetivo eram gerar dinheiro… Um homem que pagasse suas mensalidades, assim, praticamente tinha seu título assegurado, assistisse ele ou não às aulas.”

Não se aprende, como se dizia no meu tempo, com giz e cuspe. Aprende-se nos ambulatórios, enfermarias, salas cirúrgicas, com preceptores e professores qualificados.

O resultado foi que o número de escolas de Medicina nos USA caiu de 131 para 81 nos 12 anos posteriores ao informe. Estamos em um momento no Brasil em que boa parte das faculdades de Medicina não possuem as mínimas condições e não são exigidas a se adequar. Será que haverá professores qualificados para atender a demanda didática e operacional desses estudantes?

A Medicina não se aprende exclusivamente nos livros, aulas teóricas, mas sim na prática médico-hospitalar. A necessidade da Residência Médica é indiscutível e sua realização didática.

Aprendi nas minhas andanças pelo mundo que as escolas médicas começam por bons hospitais onde podem ser treinados os acadêmicos de medicina e depois se monta Universidades. Aqui está sendo ao contrário. Primeiro funda-se uma Faculdade de Medicina e depois procura-se um hospital para complementar o treinamento do estudante. Medicina não se aprende, como se dizia no meu tempo, com giz e cuspe. Aprende-se nos ambulatórios, enfermarias, salas cirúrgicas, com preceptores e professores qualificados.

Nos países em desenvolvimento qualquer reitor sabe que a maior parte das verbas universitárias vai para a Medicina. Sei que em países desenvolvidos as maiores cotas vão para as ciências como Física, Química e outras denominadas de Exatas. Necessitamos urgentemente de um relatório Flexner para autorizar que só as faculdades sérias tenham condições mínimas de funcionamento, acompanhadas por hospitais, ambulatórios, medicina da família, saúde coletiva, higiene mental, etc. No momento em que vivemos devemos tentar reduzir a influência política sobre as Escolas Médicas assim como seu ‘boom’ desenfreado.

Caçoar da importância da Medicina é fácil quando se vai bem, com saúde.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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