Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
NESTE MOMENTO DE
PANDEMIA (COVID-19) FICOU EVIDENTE QUE O CRESCIMENTO DESMESURADO DE ESCOLAS
MÉDICAS LEVOU A UM POUCO/DEFICIENTE PREPARO E TREINAMENTO DA GRANDE MAIORIA DOS
PROFISSIONAIS DA SAÚDE: ENFERMAGEM. FARMÁCIA. FONOAUDIOLOGIA MEDICINA.
ODONTOLOGIA. PSICOLOGIA. FISIOTERAPIA. TERAPIA OCUPACIONAL.
****
O
Brasil tornou-se o segundo país com mais escolas médicas:
Índia
– 381 Escolas Médicas (população 1.210.569.573).
Brasil
– 303 Escolas Médicas (população 201.032.000).
China
– 150 Escolas Médicas (população 1.354.040.000).
Em 1997, tínhamos 85 escolas médicas. Em
vinte anos, mais do que triplicamos esse número, graças à explosão das escolas
particulares que hoje correspondem a mais de 60% do total e cobram mensalidades
de R$5 mil a R$16 mil por aluno.
De 2000 a 2015, foram criadas 142 escolas
médicas: 51 públicas e 91 particulares. Em dezembro de 2017 havia 303 escolas
médicas, das quais 172 eram particulares, 78 federais, 35 estaduais, 16
municipais e 2 públicas, somando 29 753 vagas oferecidas anualmente.
No estado de Pernambuco, no ano em que me
graduei, existiam apenas 2 escolas de Medicina, uma Federal e a outra da FESP
(Fundação do Ensino Superior de Pernambuco), depois pertencente à UPE
(Universidade de Pernambuco). Atualmente não saberia informar o número delas em
meu Estado.
Neste momento
vivemos, quando o assunto é escolas de Medicina, exatamente como os EUA há 100
anos. Naquela época, o governo criou uma comissão chefiada por Abraham Flexner
(1855-1959) para visitar e elaborar um relatório sobre as 155 faculdades de
Medicina existentes no país e no Canadá. O resultado foi o fechamento de muitas
dessas instituições e convenceu o Governo e a sociedade da necessidade de
financiar e monitorar as melhores instituições. Ao fim de seu relatório,
Flexner escreveu: “As escolas médicas eram essencialmente iniciativas privadas
cujo espírito e objetivo eram gerar dinheiro… Um homem que pagasse suas
mensalidades, assim, praticamente tinha seu título assegurado, assistisse ele
ou não às aulas.”
Não se aprende,
como se dizia no meu tempo, com giz e cuspe. Aprende-se nos ambulatórios,
enfermarias, salas cirúrgicas, com preceptores e professores qualificados.
O resultado foi que o número de escolas de
Medicina nos USA caiu de 131 para 81 nos 12 anos posteriores ao informe.
Estamos em um momento no Brasil em que boa parte das faculdades de Medicina não
possuem as mínimas condições e não são exigidas a se adequar. Será que haverá
professores qualificados para atender a demanda didática e operacional desses
estudantes?
A Medicina não se aprende exclusivamente nos
livros, aulas teóricas, mas sim na prática médico-hospitalar. A necessidade da
Residência Médica é indiscutível e sua realização didática.
Aprendi nas minhas andanças pelo mundo que
as escolas médicas começam por bons hospitais onde podem ser treinados os
acadêmicos de medicina e depois se monta Universidades. Aqui está sendo ao
contrário. Primeiro funda-se uma Faculdade de Medicina e depois procura-se um
hospital para complementar o treinamento do estudante. Medicina não se aprende,
como se dizia no meu tempo, com giz e cuspe. Aprende-se nos ambulatórios,
enfermarias, salas cirúrgicas, com preceptores e professores qualificados.
Nos países em
desenvolvimento qualquer reitor sabe que a maior parte das verbas
universitárias vai para a Medicina. Sei que em países desenvolvidos as maiores
cotas vão para as ciências como Física, Química e outras denominadas de Exatas.
Necessitamos urgentemente de um relatório Flexner para autorizar que só as
faculdades sérias tenham condições mínimas de funcionamento, acompanhadas por
hospitais, ambulatórios, medicina da família, saúde coletiva, higiene mental,
etc. No momento em que vivemos devemos tentar reduzir a influência política
sobre as Escolas Médicas assim como seu ‘boom’ desenfreado.
Caçoar da
importância da Medicina é fácil quando se vai bem, com saúde.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES) e da
Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford
(Grã-Bretanha).
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