sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Crônica: “Mastigmatismo...” ... e outros causos

Mastigmatismo...

... Deve ser doença de origem mastigativa, caracterizada pela dificuldade de mexer a taba do queixo quando da trituração do alimento na cavidade bucal, causando distorção no envio do dicumê em busca goela. É o mal de que diz sofrer o Dandão, que na bodega de Zé Piaba, duns dias para cá, chega "capiongo", se abanca a um canto e bebe sem provar um "firilo" de tira-gosto. Se mela ligeiro. Só abre a boca pra dizer as tradicionais besteiras, sempre que se sente "provocado".

Fica que nem estauta, ouvindo as lorotas do povo frequentador, pra logo se intrometer na conversa e dar suas versões, seja do que for. Não passa batido numa sequer, como nessa aqui. Um sujeito franzino de ôi trocado se pabulava de haver morado no Rio de Janeiro. Conta ao bodegueiro Zé Piaba que era pintor de parede e conheceu a cantora Vanderléa, a quem chamava na intimidade de "Vandeca". Dandão calado.

Com pouco, fala que "a eterna Ternurinha, ícone da Jovem Guarda" deu-lhe 200 contos de gorjeta pela pintura da casinha do cachorro dela; que Vanderléa aceitou o convite dele pra comerem preá torrado no Icó; que a ouviu cantar, do banheiro em que ele deu duas demãos de cal, "essa é uma prova de fogo..." Foi a gota d'água. Dandão não suportou e partiu pro ataque. Levanta-se do tamborete e grita aporrinhado:

- Marrapaz!!! Adivinha quem sentou a privada desse banheiro de Varderléa? Chuta?

Frescando menos, amando mais!

Conhece o poeta Francisco Joaquim - Quinca de dona Líbia? Pense num caba bom de rima! Enviou-me duas estrofes do seu poema "Pra voar as bandas". Ele indignado com o mundo presentemente, "escalafabético até o novelo"; sei o que é isso não, mas concordo.

Eita fulerage grande
Mundo véi chêi de munganga
Natureza aguniada
Povo arrombado na zanga
Falta amor, sobra maldade
E o que se vê na cidade
É o cão chupando manga

Mas não abra nem prum trem
Carregado de besouro:
Ame muito, seja a paz
Mais forte do que um touro
Ame muito, queira bem
Dê o grau no xenhenhém
Eis aí o seu tesouro

Comemorar o quê?

História real: morreu João Calango, tem uns dias. Companheiros de merol do bar do Gildo, onde o finado vivia internado, lamentam o passamento súbito. Todos! Quer dizer, quase todos. Fernando de dona Elvira quer comemorar. Moçada se invoca com o telefonema de Nandinho, convocando o povo pra reunião de urgência.

- Tá doido, chapa? Nosso irmão bateu as botas e tu...

- Calma, colega! Calma! Soube há pouco que Calango morreu de repente...

- Ah, não foi da pandemia?

- Não!...

- Sendo assim...

Fonte: O POVO, de 4/02/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário