Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Não sou cientista político, mas, como pesquisador da
Saúde Coletiva, necessito da Ciência Política. Não se pode
conceber política de saúde, sem conceber a economia que estabelece
determinantes-chave do processo saúde/doença nas populações, a Sociologia que
permite entender a sociedade demandante e destinatária das políticas e a
ciência política que desnuda o Estado, definidor das opções e ator das
decisões, além de permitir a observação de como se constrói/distribui o poder por trás
dele.
Então leio, desde Maquiavel, grande e
complexo intelectual do Renascimento, considerado o pai da Ciência Política,
até Manuel Domingos Neto, este pensador piauiense-cearense, instigante e
criativo, que estuda as guerras por ter ódio a elas, passando por Antônio
Gramsci e Norberto Bobbio.
Marx sonhava com a internacionalização do trabalho e
que os trabalhadores do mundo, unidos, criariam justiça social e paz. O século XIX
viu nova escala de internacionalização do capital e das ambições geopolíticas
por território e matérias primas, sob a roupagem da missão insurgente de levar
liberdade, igualdade e fraternidade aos povos, conspurcado lema da Revolução
Francesa.
O séc. XIX viu indústrias bélicas nacionais
conduzirem guerras sob o véu de grandes construtos ideológicos: 1- os impérios
estabelecidos dispunham-se a conter os arcaísmo otomano e austro-húngaro e a
deter o expansionismo germânico na 1ª GM, oferecendo oportunidade de libertação
nacional para povos subjugados; 2- as potências ditas democráticas, incluindo a
estranha democracia instalada na União Soviética, enfrentaram o cruel
totalitarismo nazifascista na 2ª GM; e 3- as democracias liberais do dito
mundo livre, enfrentaram a ameaça coletivista ao capital, identificada como a
também totalitária cortina de ferro.
O capital financeiro e as comunicações se
globalizaram em velocidade e simultaneidade ímpares. Por toda parte erige-se o
totem dos pixels e do pix, mas as contradições voltam à crueza do séc. XVIII,
quando se esfumava a guerra em nome de deus. O império ocidental enfrenta os
impérios orientais, e tudo é geopolítica, território, negócio e dinheiro no
sacrifício dos povos de fronteira. A bandeira a unir forças humanistas e
progressistas é, portanto, já, paz e democracia, sem
adjetivos.
(*) Professor titular de Saúde Pública e ex-Reitor da
Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/03/2022. Opinião. p.19.
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