quarta-feira, 20 de abril de 2022

A POLÍTICA E OS TAMBORES DE GUERRA

Por José Jackson Coelho Sampaio (*)

Não sou cientista político, mas, como pesquisador da Saúde Coletiva, necessito da Ciência Política. Não se pode conceber política de saúde, sem conceber a economia que estabelece determinantes-chave do processo saúde/doença nas populações, a Sociologia que permite entender a sociedade demandante e destinatária das políticas e a ciência política que desnuda o Estado, definidor das opções e ator das decisões, além de permitir a observação de como se constrói/distribui o poder por trás dele.

Então leio, desde Maquiavel, grande e complexo intelectual do Renascimento, considerado o pai da Ciência Política, até Manuel Domingos Neto, este pensador piauiense-cearense, instigante e criativo, que estuda as guerras por ter ódio a elas, passando por Antônio Gramsci e Norberto Bobbio.

Marx sonhava com a internacionalização do trabalho e que os trabalhadores do mundo, unidos, criariam justiça social e paz. O século XIX viu nova escala de internacionalização do capital e das ambições geopolíticas por território e matérias primas, sob a roupagem da missão insurgente de levar liberdade, igualdade e fraternidade aos povos, conspurcado lema da Revolução Francesa.

O séc. XIX viu indústrias bélicas nacionais conduzirem guerras sob o véu de grandes construtos ideológicos: 1- os impérios estabelecidos dispunham-se a conter os arcaísmo otomano e austro-húngaro e a deter o expansionismo germânico na 1ª GM, oferecendo oportunidade de libertação nacional para povos subjugados; 2- as potências ditas democráticas, incluindo a estranha democracia instalada na União Soviética, enfrentaram o cruel totalitarismo nazifascista na 2ª GM; e 3- as democracias liberais do dito mundo livre, enfrentaram a ameaça coletivista ao capital, identificada como a também totalitária cortina de ferro.

O capital financeiro e as comunicações se globalizaram em velocidade e simultaneidade ímpares. Por toda parte erige-se o totem dos pixels e do pix, mas as contradições voltam à crueza do séc. XVIII, quando se esfumava a guerra em nome de deus. O império ocidental enfrenta os impérios orientais, e tudo é geopolítica, território, negócio e dinheiro no sacrifício dos povos de fronteira. A bandeira a unir forças humanistas e progressistas é, portanto, já, paz e democracia, sem adjetivos.

 (*) Professor titular de Saúde Pública e ex-Reitor da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/03/2022. Opinião. p.19.

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