sexta-feira, 15 de abril de 2022

FOLCLORE POLÍTICO LXXIII: Porandubas Políticas 628

O selo, coronel, o selo

Nos Inquéritos Policiais Militares (IPM), abertos nos anos de chumbo, Jânio é chamado ao Rio para depor em um deles. Mas o ex-presidente não vai. E diz por que não vai:

– Só falo no meu chão, na minha jurisdição.

O coronel vai a São Paulo ouvi-lo. À máquina, o sargento escrevente e, ao lado de Jânio, seu amigo Vicente Almeida. O coronel começa:

– Dr. Jânio Quadros, em que dia e ano o senhor nasceu?

Jânio arregala os olhos, entorta-os e volta-se para o lado:

– Vicente, meu bem, será que ele não sabe? Não pode ser.

O coronel não entende:

– Não sabe o quê?

– Que perguntas têm que ser por escrito. Está na lei, coronel. Na lei.

O depoimento prossegue por escrito. O coronel tira um maço de cigarros, oferece. Jânio pega-o na ponta dos dedos, passa de uma mão à outra:

– Vicente, meu bem, que coisa. O que é isto? Que estranho, Vicente! Nunca havia visto.

O coronel irrita-se:

– Por que o espanto, Dr. Jânio? É um cigarro americano Marlboro.

– Sim, sim, meu caro coronel, sei-o, sei-o muito bem. Mas, onde está o selo? O selo, coronel? O selo?

O IPM acabou.

(Historinha contada por Jô Soares).

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

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