"Véi inxirido" é bicho pra se pabular!
Eram
bem dez proseando, sentados nos extensos bancos da Praça da Matriz - uns de
frente pros outros. Na faixa dos 75 anos, seu Quinzim queixa-se do açúcar no
sangue, lascado da diabetes. João Martins, uma dor medonha nos quartos,
quengado todo da coluna, joelho pedindo penico. Marivaldo? Mouco das oiças, sem
contar que andava mijando na cueca sem fazer força.
Na
casa dos 80 anos, seu Dedé dizia-se inoperante da memória - branco total para
lembrar do que rolou há meia hora. Mané Piau dava espirros estrondosos com odor
de mel, e descomunal era a coceira no pescoço. Seu Olavo Mangabeira! Dormia
feito porco da mão branca, roncando e babando de dar dó. Igualmente
"dequedente", Chico Canoeiro era uma Toyota no ponto morto.
Na
casa dos 90, eis que a palavra é facultada a Bezerrinha. Chamando o jovem
fazedor de favor para o grupo, ali do lado, deixa os colegas atônitos e cheios
de inveja ao pedir respeitoso:
-
Zezinho, vá à farmácia de João Mutamba e me traga uma caixa com 30 comprimidos
de Viagra 200 miligramas, dobrado!
"Podela"
Os
ciganos chegam à cidade sem muita novidade para encantar a comunidade, como ler
a mão começando pelas unhas dos pés. Motivo: o grupo nômade que há pouco
ocupara o mesmíssimo campinho de futebol, enrolou tanto que a negada local
ficou escaldada. O que fazer pra tirar o da merenda?
A
ciganada inteligente e bonita precisava pensar ligeiro. E a ideia brilhante
surge meio sem querer, quando um deles começa a cantar música do Falcão:
-
Yo defecava em el mato quanto me jogaran uma piedra, lá piedra bateu em mi
costas, bateu em mi costas. Me melei todo de mierda...
Ouvindo
o mantra, o cigano decano propôs:
-
Hermanos, vamos todos defecar!!! Deixem la mierda ficar seca, pilem ela bem
piladinha, coloquem nos vidrinhos e vamos vender como pó mágico rejuvenescedor!
Pronto.
Estamos na praça principal da cidade. Na banquinha do cigano vendedor, dezenas
de vidrinhos com o pó mágico. Senhora aposentada pede um frasco, abre-o, pega
um pouco com os dedos, leva ao nariz, apura o olfato e grita:
-
É merda!
O
cigano retruca vendedor:
-
Não senhora! É podela!!!
O melhor seguro?
-
Aquele que, a qualquer hora do dia ou da noite, em caso de sinistro, a
seguradora manda alguém pro local e só sai de lá com a questão solucionada -
barroada, acidente com bicho de urêa, prego de motor. E o segurado vai pra casa
numa boa.
Verdade!
Mas Tico Cabeção queria algo mais do corretor. É que um caba melado, de dois
metros por um e meio de largura, bateu na traseira do Fiat dele, encarou e
ainda mandou Tico fazer carreira. Tico chamou o rapaz da seguradora para uma
única missão: mandar o varapau pra casa do chico!
-
Depois, pode ir embora!
Fonte: O POVO, de 27/05/2022. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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