Por Talyta Martins Neves (*)
Desde o final da II GM, a presença de mulheres
no mercado de trabalho aumentou significativamente, combinada ao fato
de, no âmbito reprodutivo e doméstico, continuarem como principais
responsáveis. Além do aumento quantitativo, é preciso atentar para as características
sociais, econômicas e políticas da atuação feminina nesses espaços.
A economia capitalista vem sofrendo
transformações que resultaram em expressivas mudanças nos campos laborais que,
em sua maioria, prejudicam a classe trabalhadora. Atualmente, é possível
identificar as flexibilizações das leis trabalhistas, violando as relações e os
direitos do trabalho, com a justificativa de combater o desemprego estrutural e
melhorar a situação econômica.
A crescente feminização do mercado de
trabalho, nesse contexto, se inscreve em padrão cultural anterior e no novo
processo de precarização. Mas, é inegável que as mudanças sociais no conceito
de família, a perda de força do patriarcado e as diversas lutas feministas
contribuíram para que as mulheres pudessem ter acesso a outros modos de
trabalhar e viver.
Hoje, o trabalho campo da saúde tem as mulheres como
maioria, sem a autonomia e a liberdade almejadas. Mesmo inseridas, as
mulheres apresentam trajetórias diferentes e inferioridade hierárquica em
relação aos homens. Por exemplo, no Brasil, apenas 37,4% dos cargos gerenciais
na Saúde são ocupados por mulheres. A média global é menor. Nos
hospitais, a mulher ocupa cargos de assessoria, coordenação e espaços de
decisão, mas a principal representação político-administrativa lhe é quase
sempre vedada.
A transformação social precisa continuar,
pois as mulheres não são bem tratadas, na prática dos serviços, no campo dos
direitos e na vulnerabilidade ao assédio moral. Urge a inclusão paritária
das mulheres na política, para falarem, serem ouvidas e respeitadas.
Que as organizações se adaptem ao fato de que menstruam, engravidam e têm
climatério, mas podem ser tão criativas quantos os homens e desenvolveram
particular experiência para o cuidado. Aquelas condições não justificam menores
salários e menor credibilidade.
(*) Enfermeira intensivista.
Mestranda em Saúde Coletiva da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 24/07/2022. Opinião. p.18.
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