Abro a
coluna com um “causo” que presenciei
Um jumento bêbado no Piauí
1986 Comício
de encerramento da campanha de Freitas Neto (PFL) ao governo do Piauí. Desde
cedo, carros de som anunciavam monumental comício. Um showmício da grande Elba
Ramalho. Carretas com imensos aparelhos de som saíram do Rio de Janeiro, 10
dias antes da data. Fortes chuvas atrapalharam o transporte, atrasando a
chegada. O som chegou quase na hora do comício na Praça do Marquês.
Coordenador
da campanha, cheguei ao local um pouco antes para ver o ambiente.
Técnicos
se esforçavam para instalar os aparelhos. 18 horas. Um toró (como se diz no
Nordeste) começa a cair. A chuva torrencial faz a festa. Praça lotada. Três mil
piauienses gritando sob a água que caía. Garrafas de cachaça corriam de mão a
mão.
De
repente, um estrondo. Fogo e fumaça nos cabos. Corre-corre dos técnicos. Um
aviso: “Acabou o som. Não há condição para o showmício.”
Elba
Ramalho atirou:
– Está
aqui meu contrato. Sem som, não canto.
Muita
conversa. Até que admite:
–
Cantarei uma música e me arranjem um acompanhamento.
Saiu não
sei de onde um cara com um banjo. O povão pedia:
– Elba,
Elba, Elba, cadê a Elba?
Que
começou a cantar:
– Bate, bate, bate,
coração…
Nem bem
terminou a estrofe, parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha
vida, um esculacho na massa:
– Seus
imbecis, seus loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas?
O que
era aquilo? Por que aquele carão?
Olhei
para o meio da multidão.
E vi a
cena:
– Um
sujeito abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa
de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Quanto mais Elba xingava
a multidão, mais apupos, mais vaias.
No dia
seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto foi
um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto
Silva, candidato do PMDB.
Perdemos
a campanha por 1%. O desastre virou o clima. Quando faço palestras sobre
Marketing Político, costumam me pergunta:
–
Professor, qual é o fator imponderável em campanha eleitoral?
Respondo:
– Um
jumento bêbado no Piauí.
P.S. O
Imponderável nos visitou na campanha de Bolsonaro
Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).
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