domingo, 4 de setembro de 2022

FOLCLORE POLÍTICO LXXXIV: Porandubas Políticas 651

Abro a coluna com um “causo” que presenciei

Um jumento bêbado no Piauí

1986 Comício de encerramento da campanha de Freitas Neto (PFL) ao governo do Piauí. Desde cedo, carros de som anunciavam monumental comício. Um showmício da grande Elba Ramalho. Carretas com imensos aparelhos de som saíram do Rio de Janeiro, 10 dias antes da data. Fortes chuvas atrapalharam o transporte, atrasando a chegada. O som chegou quase na hora do comício na Praça do Marquês.

Coordenador da campanha, cheguei ao local um pouco antes para ver o ambiente.

Técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos. 18 horas. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair. A chuva torrencial faz a festa. Praça lotada. Três mil piauienses gritando sob a água que caía. Garrafas de cachaça corriam de mão a mão.

De repente, um estrondo. Fogo e fumaça nos cabos. Corre-corre dos técnicos. Um aviso: “Acabou o som. Não há condição para o showmício.”

Elba Ramalho atirou:

– Está aqui meu contrato. Sem som, não canto.

Muita conversa. Até que admite:

– Cantarei uma música e me arranjem um acompanhamento.

Saiu não sei de onde um cara com um banjo. O povão pedia:

– Elba, Elba, Elba, cadê a Elba?

Que começou a cantar:

Bate, bate, bate, coração…

Nem bem terminou a estrofe, parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho na massa:

– Seus imbecis, seus loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas?

O que era aquilo? Por que aquele carão?

Olhei para o meio da multidão.

E vi a cena:

– Um sujeito abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Quanto mais Elba xingava a multidão, mais apupos, mais vaias.

No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB.

Perdemos a campanha por 1%. O desastre virou o clima. Quando faço palestras sobre Marketing Político, costumam me pergunta:

– Professor, qual é o fator imponderável em campanha eleitoral?

Respondo:

– Um jumento bêbado no Piauí.

P.S. O Imponderável nos visitou na campanha de Bolsonaro

Fonte: Gaudêncio Torquato (GT Marketing Comunicação).

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