Por Sofia
Lerche Vieira (*)
Como
tudo na vida, também a política tem ciclos. A
observação dos movimentos recentes do cenário nacional e local permite perceber
a complexidade desse fenômeno. O troca-troca de posições e alianças é
estarrecedor. Chega a desnortear o eleitor. Importante não perder de vista que,
ao lado das relações atravessadas por ideologias e projetos diferenciados, um
componente nem sempre visível nessas relações é a personalidade dos atores que
transitam nos cenários em disputa. Tais características não devem
ser subestimadas em um ambiente rico de componentes psicológicos que permitem
compreender as conciliações possíveis nos diferentes momentos históricos.
O
Ceará é terreno fecundo para compreender os ciclos políticos e suas repercussões
sobre a vida de seus cidadãos. Fiquemos com o período pós-redemocratização para
compreender algo desses ciclos. É nesse intervalo que as urnas derrotam o
chamado ciclo dos coronéis, com a eleição de Gonzaga Mota ao governo do
Estado. Este, por sua vez, é obscurecido por uma nova força política,
capitaneada por Tasso Jereissati, cujo período no poder tornou-se conhecido
como "governo das mudanças".
Tasso teve
longa passagem e influência sobre os ciclos recentes da política local. Não
apenas foi brindado com dois períodos consecutivos de mandato (1987-1991 e
1995-2002), como também, por duas vezes, fez seus sucessores - Ciro Gomes
(1991-1994) e Lúcio Alcântara (2003-2006).
Em
2007, a eleição de Cid Gomes traria uma força política de aparente
oposição, dado que forjada no seio do tassismo. Depois de governar por oito
anos (2007-2014), Cid faz seu sucessor, Camilo Santana, que também governa
por dois mandatos, (2014-2022) com alto grau de aceitação popular.
Eis
que, quando tudo parecia caminhar para mais uma conciliação pelo alto,
uma candidatura de consenso não chega a emplacar, provocando uma
ruptura entre os grupos até então aliados. Seria o fim de um longo ciclo
político, ou tão somente a recomposição das forças no poder? Agora, em vez de dois
candidatos nitidamente em confronto, existem três. O que virá depois? Com a
palavra, as urnas.
(*)
Professora do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/08/22. Opinião, p.20.
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