terça-feira, 6 de setembro de 2022

OS CICLOS QUE FAZEM A POLÍTICA

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Como tudo na vida, também a política tem ciclos. A observação dos movimentos recentes do cenário nacional e local permite perceber a complexidade desse fenômeno. O troca-troca de posições e alianças é estarrecedor. Chega a desnortear o eleitor. Importante não perder de vista que, ao lado das relações atravessadas por ideologias e projetos diferenciados, um componente nem sempre visível nessas relações é a personalidade dos atores que transitam nos cenários em disputa. Tais características não devem ser subestimadas em um ambiente rico de componentes psicológicos que permitem compreender as conciliações possíveis nos diferentes momentos históricos.

O Ceará é terreno fecundo para compreender os ciclos políticos e suas repercussões sobre a vida de seus cidadãos. Fiquemos com o período pós-redemocratização para compreender algo desses ciclos. É nesse intervalo que as urnas derrotam o chamado ciclo dos coronéis, com a eleição de Gonzaga Mota ao governo do Estado. Este, por sua vez, é obscurecido por uma nova força política, capitaneada por Tasso Jereissati, cujo período no poder tornou-se conhecido como "governo das mudanças".

Tasso teve longa passagem e influência sobre os ciclos recentes da política local. Não apenas foi brindado com dois períodos consecutivos de mandato (1987-1991 e 1995-2002), como também, por duas vezes, fez seus sucessores - Ciro Gomes (1991-1994) e Lúcio Alcântara (2003-2006).

Em 2007, a eleição de Cid Gomes traria uma força política de aparente oposição, dado que forjada no seio do tassismo. Depois de governar por oito anos (2007-2014), Cid faz seu sucessor, Camilo Santana, que também governa por dois mandatos, (2014-2022) com alto grau de aceitação popular.

Eis que, quando tudo parecia caminhar para mais uma conciliação pelo alto, uma candidatura de consenso não chega a emplacar, provocando uma ruptura entre os grupos até então aliados. Seria o fim de um longo ciclo político, ou tão somente a recomposição das forças no poder? Agora, em vez de dois candidatos nitidamente em confronto, existem três. O que virá depois? Com a palavra, as urnas.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/08/22. Opinião, p.20.


Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog