quinta-feira, 6 de outubro de 2022

A ENFERMIDADE DA VIOLÊNCIA

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Quando o clima de insegurança atinge a Sociedade em sua totalidade, a Violência transforma-se numa reação corriqueira. Estudos demonstram que natos de uma gestação que evolui em clima de medo, agressão, desamparo — apresentam desvios em sua personalidade. O fortalecimento dos vínculos familiares é a única maneira de prevenir a Enfermidade da Violência.

É muito importante destacar que o desenvolvimento educacional deverá estimular os sentimentos de compaixão, compreensão e solidariedade; maneira essencial para criar uma cultura de não violência. Uma das principais linhas de trabalho consiste em estabelecer “circuitos interativos” visando ampliar o campo da reflexão, de alternativas e de condutas cordiais entre as pessoas. Digo, sem dúvida alguma, que a cultura da “não violência” tem início na família. Seguem-se alguns exemplos práticos:

• Quando você arranca o brinquedo da mão do seu irmão, ele fica assustado e chora e eu fico muito zangada com você; aí nós brigamos e você fica triste, pensando que eu gosto mais dele do que de você.

Não seria melhor conversar com seu filho ou filha sobre o assunto?

• Sei que você está chateado (a) porque não vou poder sair com você, agora. Cheguei em casa muito cansada.

Mas, em vez de ficar triste, poderíamos combinar outra coisa?

• Fico raivoso quando encontro sua toalha molhada em cima da cama. Diga: coloque-a no banheiro, por favor, em vez de dizer: — Só uma idiota consegue deixar uma toalha molhada em cima cama!

• Pô, pai, você é careta demais mesmo, não dá para entender por que eu quero ir nessa festa?  Tente negociar uma solução mais satisfatória do tipo “Vamos tentar chegar a um acordo sobre o horário de sair da festa”.

Senhores Pais, em vez de se preocupar com ganhar ou perder a discussão, preocupem-se em encontrar uma solução. No entanto, o princípio da não violência nunca deve ser usado como um escudo para a covardia. Muitos pais batem nos filhos — não só porque não conseguem colocar limites de modo firme, sereno e consistente, mas, sobretudo, porque pensam que esse é um meio legítimo de impor disciplina. No entanto, quando perguntados se acreditam que os professores ou a babá poderiam dispor desse recurso para serem obedecidos, ficam indignados e respondem: — Claro que não !

Portanto, se os pais pensam que educadores e empregadas domésticas precisam usar métodos não violentos para colocar limites e estimular o cumprimento das tarefas, por que eles próprios não conseguem fazer o mesmo?

Diversos métodos, não violentos de disciplina devem ser considerados, tais como colocar a criança “para pensar”, privá-la temporariamente de coisas que ela gosta ou restringir atividades como brincar com amigos ou ver TV ou entrar na Internet.

O mais importante é saber que ninguém nasce violento. É preciso construir a mentalidade de que a violência é inaceitável, por parte de todos. A Violência é um comportamento “aprendido” no processo de socialização, que está relacionado com a formação cultural do indivíduo. É essa identidade, criada por contatos com códigos, padrões, hábitos e valores que determina as ações na sociedade e o modo como enxergá-la.

As linhas de ação para a prevenção e o tratamento da Violência começam em casa.  Devemos nos lembrar de que o ciclo da violência tende a passar de uma geração a outra: números expressivos dos adultos e adolescentes violentos foram crianças vítimas de abusos de outros adultos quando crianças…

A não-violência nunca deve ser usada como um escudo para a covardia. É uma arma para os bravos (Mahatma Gandhi 1869 – 1948)

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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