Por Henrique Soárez (*)
"O especialista sabe tudo sobre nada e o generalista sabe nada
sobre tudo." Este era um bom aforismo, até a chegada dos modelos de linguagem
de larga escala. O GPT-4 é o verdadeiro generalista. Nenhum ser
humano conhece sobre tantos assuntos ao mesmo tempo.
Tentando aprender a programar em Python, pedi ao GPT-4 e ao Google
Bard para resolverem um problema clássico do estudo dos algoritmos: como
colocar 10 cavalos em um tabuleiro de xadrez sem que nenhum deles esteja em
condições de atacar um outro. Ao comparar as respostas dadas pelos dois modelos
pude entender um pouco sobre a sintaxe da nova linguagem. Pude também perceber
como a qualidade das respostas era errática: não só entre os dois modelos,
mas também entre duas tentativas do mesmo modelo.
Não foi difícil ver que a primeira solução oferecida pelo Bard
sequer entendia o significado de um tabuleiro de xadrez. Mais um
aprendizado: limpei o chat, perguntei novamente, e a resposta veio bem melhor.
Para ter acesso ao Google Bard foi necessário contratar uma VPN. A
minha surpresa ao perceber que o Brasil não estaria entre os 180 primeiros
países da lista de lançamento durou até quando descobri que também não havia
nenhum país da União Europeia na relação. Estávamos em boa companhia,
afinal de contas. O Bard ainda não fala português, mas se mantém continuamente
atualizado sobre as novidades da Internet. O GPT, por outro lado, torna-se
cada dia mais esperto sobre todo o conhecimento disponível publicamente até
setembro/2021.
Uma das novidades do recente lançamento do modelo da Google é a sua
maior eficiência energética quando comparado ao GPT. Mas isso ainda não é
motivo de festa: treinar um desses modelos consome a energia equivalente à
produção mensal de uma usina nuclear de médio porte e custa algumas
dezenas de milhões de dólares. Um humano, ainda que mais lentamente, chega a
resultados comparáveis com uma fração deste investimento (as estatísticas
americanas informam que criar um filho na classe média deles custa US$250.000).
E nós humanos dependemos de pouco mais que um par de sanduíches por dia para
seguir aprendendo.
(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/05/23. Opinião, p.20.
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