Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
A Igreja põe-se à escuta da realidade dos jovens, na pessoa do
compassivo e conciliador Papa Francisco. A pós-modernidade globalizada
exerce forte influência sobre os jovens, que sentem o dilaceramento da dupla
experiência do vazio de sentido da sociedade consumista e hedonista, de um
lado, e de outro, a necessidade absoluta do ser humano de horizonte amplo de
sentido a ser encontrado em Deus.
Os jovens possuem um coração permeado do desejo de encontro com
o sentido de todos os sentidos, pois, quanto mais fundo a sociedade mergulha no
oceano infindável do materialismo dos bens de consumo, utilitarismo e
pragmatismo reinante, mais alto a juventude ergue o clamor pela Transcendência.
O Papa se propõe a ouvir os jovens em profundidade e a discernir
sobre questões postas por eles, à luz do Evangelho e da missão da Igreja,
que precisa e quer estar mais ao lado deles no discernimento de questões
cruciais de sua vida e de seu futuro.
Francisco possui o dom de agregar, de acolher, de abraçar a
todos (as) e apela para que os jovens dialoguem entre si, mas é preciso
principalmente que dialoguem com os mais velhos. Os que vão pelo seu caminho
sem dialogar com os mais velhos perdem as raízes, perdem o sentido da
História, perdem o sentido de pertença. O dedo está apontado para a crescente
atomização geracional, muitas vezes revestida da mais cruel desumanidade.
Na Jornada Mundial da Juventude de 2023 observamos o
apelo chamado de Francisco pelo diálogo entre gerações. E, com energia e força
renovadas pelas suas palavras, trabalharemos para instituir um diálogo 'mais
fecundo' entre jovens e "jovens há mais tempo".
A investida é o vigor político na preservação de uma
sociedade em que a juventude e a senioridade, a irreverência e a sabedoria
andem de mãos dadas na construção do futuro e no respeito pelo passado.
Os jovens querem que a Igreja seja uma instituição que brilhe
por sua coerência, competência, corresponsabilidade e solidez cultural e que
compartilhe sua situação de vida e não somente os seus sermões. Em tempos
favoráveis para reconhecer suas falhas e omissões, os jovens oferecem
elementos significativos para a Igreja retomar sua missão e anúncio profético
junto à juventude.
Ao voltar-se para eles, antes de apelar para a sua conversão, é
a própria Igreja que se propõe a fazer um caminho de "conversão
pastoral e missionária". E isso requer mudança de atitudes e posturas
pastorais em relação aos jovens.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do
Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 10/06/2023. Opinião. p.18.
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