A grande mídia nacional anunciou a instalação
de uma unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no Ceará, obtendo
notável reverberação na terra alencarina por ter sido a escolhida para albergar
a afamada escola de engenharia aeronáutica sediada em São José dos Campos-SP.
A principal justificativa técnica para a implantação
dessa primeira unidade fora de sede repousa na massiva presença de cearenses
entre os aprovados no vestibular do ITA, tido e havido como o mais difícil no
Brasil, em decorrência da acirrada e diferenciada concorrência por vaga,
despertando interesse em vestibulandos da maior qualidade e de distintos pontos
do País.
A Globo News, em matéria fartamente postada em
grupos de WhatsApp locais, apontou que, nos últimos dois anos, os cearenses
amealharam mais de 20% das novas matrículas do ITA, percentagem essa que
passava dos 40% ao se computarem outros candidatos nordestinos que estudaram em
cursinhos preparatórios do Ceará, e assinalou, em uma análise aligeirada, que
tal extensão do ITA facilitaria a economia doméstica das famílias nordestinas,
que gastam muito para manter seus filhos em São Paulo, e ainda evitaria as
perdas de rapazes e moças que arranjariam seus futuros cônjuges entre
paulistas.
O último motivo arrolado excepcionalmente
ocorre, pois os iteanos cearenses só muito raramente contraem núpcias com
pessoas com as quais desenvolveram relações de afeto durante a graduação. O
primeiro motivo não tem tanto peso no orçamento familiar, posto que os
aprovados no vestibular do ITA são, quase sempre, oriundos de famílias de bem
aquinhoadas financeiramente e estudaram em boas escolas particulares do Ceará.
Na verdade, com uma unidade do ITA no Ceará se
aumentará a chance de ingresso dos paulistas na sede de São José dos Campos, uma
vez que não teriam os concorrentes inscritos no Ceará.
Os iteanos, em sua maioria, não são absorvidos
na Aeronáutica, com exceção dos que concorrem às vagas de militares, os quais,
amiúde, se desligam da Força Aérea depois de cumprirem o tempo mínimo de
permanência, optando por trabalharem em atividades civis. Aliás, a maioria dos
formados no ITA passa a atuar no mercado financeiro, o que incluem empresas
fora do Brasil.
Fazer a graduação fora do estado de origem,
como se observa muito nos EUA, bem longe das asas maternas, é muito importante
para propiciar maturidade e independência aos nossos rebentos.
O ambiente de convivência e de amizade dos
iteanos no alojamento do H8, ao lado do absoluto foco nos estudos, dificilmente
se reproduzirá nas instalações da Base Aérea de Fortaleza.
Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Do Instituto do Ceará e
da Academia Cearense de Letras
Nota: Publicado, com ajustes, In: O Povo, de 23/07/2023. Opinião. p.19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário