Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)
A palavra Misericórdia pode ser descrita como a compaixão
despertada pela desgraça ou pela miséria alheia. A palavra misericórdia tem
origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis
(coração). "Ter compaixão do coração" significa ter capacidade de
sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos
sentimentos do outro.
O Papa Francisco explica que, no livro do Êxodo, o Senhor
apresenta-se como "Deus Misericordioso". Ele nos revela seu rosto e
seu coração, rico em clemência e lealdade. "Ele tem compaixão, está sempre
disposto a acolher, a compreender e a perdoar, como o Pai com o seu Filho
pródigo", afirma.
A própria palavra 'Misericórdia' evoca um comportamento terno. O
termo em hebraico, usado na Bíblia, significa entranhas, e faz pensar no amor
visceral materno. Deus está disposto a amar, proteger e ajudar, dando-Se todo
por nós.
Segundo Francisco, outra virtude desse Deus misericordioso é que
Ele é "vagaroso na ira", possui imensurável capacidade de suportar.
"Ele sabe esperar, não é impaciente como os homens", afirma.
Para mim é fácil falar sobre a Misericórdia de Deus, pois
percebo constantes sinais dela na minha caminhada. Acredito, experimento e
testemunho que o Deus revelado por Jesus não é um saber que se define com
frases de efeito ou fórmulas. Deus é um sabor, uma experiência. Ele se deixa
saborear, se deixa experimentar. E o mais especial e divino sabor de Deus é sua
eterna Misericórdia.
A Misericórdia é a expressão da essência divina. Não acredito e
nem anuncio um deus da ira, do julgamento, da condenação, mas, um Deus
humanamente comovente, encantador que aproxima seu coração das misérias humanas
para curar, perdoar e deixar-se saborear por seu amor incondicional.
Só a Misericórdia de Deus é capaz de salvar o mundo da frieza,
da violência e da indiferença. Ela renova relacionamentos, reconstrói famílias,
sara corações e feridas. O amor de Deus por nós sempre será maior do que nossos
pecados e omissões. Afinal, o cristianismo não nasceu de uma bela ideia ou de
um plano estratégico, mas de um acontecimento, do encontro com uma pessoa:
Jesus de Nazaré.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor.
Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador
do Movimento Amare.
Fonte: O Povo, de 10/07/2023. Opinião. p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário