quinta-feira, 17 de agosto de 2023

ENTRANHAS

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

A palavra Misericórdia pode ser descrita como a compaixão despertada pela desgraça ou pela miséria alheia. A palavra misericórdia tem origem latina, é formada pela junção de miserere (ter compaixão), e cordis (coração). "Ter compaixão do coração" significa ter capacidade de sentir aquilo que a outra pessoa sente, aproximar seus sentimentos dos sentimentos do outro.

O Papa Francisco explica que, no livro do Êxodo, o Senhor apresenta-se como "Deus Misericordioso". Ele nos revela seu rosto e seu coração, rico em clemência e lealdade. "Ele tem compaixão, está sempre disposto a acolher, a compreender e a perdoar, como o Pai com o seu Filho pródigo", afirma.

A própria palavra 'Misericórdia' evoca um comportamento terno. O termo em hebraico, usado na Bíblia, significa entranhas, e faz pensar no amor visceral materno. Deus está disposto a amar, proteger e ajudar, dando-Se todo por nós.

Segundo Francisco, outra virtude desse Deus misericordioso é que Ele é "vagaroso na ira", possui imensurável capacidade de suportar. "Ele sabe esperar, não é impaciente como os homens", afirma.

Para mim é fácil falar sobre a Misericórdia de Deus, pois percebo constantes sinais dela na minha caminhada. Acredito, experimento e testemunho que o Deus revelado por Jesus não é um saber que se define com frases de efeito ou fórmulas. Deus é um sabor, uma experiência. Ele se deixa saborear, se deixa experimentar. E o mais especial e divino sabor de Deus é sua eterna Misericórdia.

A Misericórdia é a expressão da essência divina. Não acredito e nem anuncio um deus da ira, do julgamento, da condenação, mas, um Deus humanamente comovente, encantador que aproxima seu coração das misérias humanas para curar, perdoar e deixar-se saborear por seu amor incondicional.

Só a Misericórdia de Deus é capaz de salvar o mundo da frieza, da violência e da indiferença. Ela renova relacionamentos, reconstrói famílias, sara corações e feridas. O amor de Deus por nós sempre será maior do que nossos pecados e omissões. Afinal, o cristianismo não nasceu de uma bela ideia ou de um plano estratégico, mas de um acontecimento, do encontro com uma pessoa: Jesus de Nazaré. 

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento Amare.

Fonte: O Povo, de 10/07/2023. Opinião. p.18.

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