segunda-feira, 20 de novembro de 2023

A IMPORTÂNCIA DO LIVRINHO

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Sempre que traziam ao Marechal Lott algo com "cheiro" de golpe, o exemplar militar indagava: "Está no livrinho?" Ou seja: tem o amparo constitucional? Não? E ao dizer "caiam fora!", golpeava o eventual golpe. Lott estava em sintonia com a frase atribuída a Winston Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, se excetuarmos todas as demais." Na democracia, o governo é julgado periodicamente; na ditadura, não, pois nela a força vale mais do que o voto.

Países evoluídos seguem a constituição e raramente a alteram. Ser democrata não é ser de esquerda ou direita, uma vez que existem ditaduras de direita e de esquerda. No totalitarismo, uma minoria se banqueteia, e a maioria é explorada, sujeita a privações não por leis, senão pelo desejo do tirano.

Renato Janine, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Helena Nader, presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciências), Marcia Abrahão, presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), e Fabio Gomes, secretário-executivo da ICTP (Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento), assinaram, a 8 mãos, artigo na Folha de S. Paulo, a lembrar que 5 de outubro, aniversário de nossa Constituição, deveria ser uma data a instruir os que não conheceram a ditadura.

E evocam: "Vamos educar os jovens para que repudiem a tirania, o ódio e o preconceito." Lembram que "ditadura rima com tortura e censura", e, ainda, que a Argentina tornou feriado o 24 de março, aniversário da queda de sua ditadura; e, a desejar que sigamos o exemplo dos vizinhos, aconselham-nos a seguir a proposta de quase cem entidades, as quais decidiram chamar de Dia de Luta pela Democracia Brasileira o 5 de outubro, que, em 1988, foi a data da promulgação da nossa Constituição Federal, "tendo como fundo sonoro as palavras de Ulysses Guimarães: Temos ódio e nojo da ditadura".

Sugerem "educar crianças e jovens a repudiarem tirania, ódio e preconceito ao abraçarem a fraternidade, a liberdade e a igualdade de direitos". E para que esses objetivos sejam atingidos, a educação não é uma saída. É a saída.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/10/23. Opinião, p.18.

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