Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Sempre que traziam ao Marechal Lott algo com "cheiro" de
golpe, o exemplar militar indagava: "Está no livrinho?" Ou seja: tem
o amparo constitucional? Não? E ao dizer "caiam fora!", golpeava o
eventual golpe. Lott estava em sintonia com a frase atribuída a Winston
Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, se excetuarmos todas
as demais." Na democracia, o governo é julgado periodicamente; na
ditadura, não, pois nela a força vale mais do que o voto.
Países evoluídos seguem a constituição e raramente a alteram. Ser
democrata não é ser de esquerda ou direita, uma vez que
existem ditaduras de direita e de esquerda. No totalitarismo, uma
minoria se banqueteia, e a maioria é explorada, sujeita a privações não por
leis, senão pelo desejo do tirano.
Renato Janine, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência), Helena Nader, presidente da ABC (Academia Brasileira de
Ciências), Marcia Abrahão, presidente da Andifes (Associação Nacional dos
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), e Fabio Gomes, secretário-executivo
da ICTP (Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento), assinaram, a 8
mãos, artigo na Folha de S. Paulo, a lembrar que 5 de outubro, aniversário
de nossa Constituição, deveria ser uma data a instruir os que não
conheceram a ditadura.
E evocam: "Vamos educar os jovens para que repudiem a tirania,
o ódio e o preconceito." Lembram que "ditadura rima com tortura e
censura", e, ainda, que a Argentina tornou feriado o 24 de
março, aniversário da queda de sua ditadura; e, a desejar que sigamos o exemplo
dos vizinhos, aconselham-nos a seguir a proposta de quase cem entidades, as
quais decidiram chamar de Dia de Luta pela Democracia Brasileira o 5 de
outubro, que, em 1988, foi a data da promulgação da nossa Constituição
Federal, "tendo como fundo sonoro as palavras de Ulysses Guimarães: Temos
ódio e nojo da ditadura".
Sugerem "educar crianças e jovens a repudiarem
tirania, ódio e preconceito ao abraçarem a fraternidade, a liberdade
e a igualdade de direitos". E para que esses objetivos sejam atingidos, a
educação não é uma saída. É a saída.
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias
Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/10/23. Opinião, p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário