sexta-feira, 8 de março de 2024

Crônica: “Dinheiro pouco eu tenho muito” ... e outros causos

Dinheiro pouco eu tenho muito

Da Vila União, fofoca. Jair Moraes me conta que o vereador dele, pra mostrar serviço no ano eleitoral, deu entrada em três projetos de lei em regime de urgência-urgentíssima, que, por certo, não serão bem recebidos pelos companheiros de vereança, pois bolem com a vida da comunidade e o pior: “O inverno ainda nem começou”. Contou-me que é “arrumação de quem tem não tem o que fazer. Onde já se viu uma marmota dessas? Coisa de quem não tem um pingo de juízo!” Qual a trinca de projetos do parlamentar?

O primeiro, por força da liseira em que se encontra o representante oposicionista desde que nasceu (deve a Deus e a seu Raimundo), trata, ipsis litteris, de “conscientizar os munícipes a se acostumarem a viver uma vida sem dinheiro”. O segundo, tão inverossímil quanto, ordena o Executivo municipal a “adiantar o dia em 25 minutos pra nunca mais ninguém perder um ônibus na Rodoviária porque acordou tarde com ressaca”. O terceiro, nem a pau - Juvenal! - terá condição de passar em votação no plenário:

- “Não mais seja a cachaça uma bebida alcoólica”.

Questão pro Inmetro resolver

Chico Mancebo, 92 anos, morre num morre de velhice. Por sinal, muito tranquilo estava ele no fundo branquinho daquela rede em seus derradeiros instantes. Batia a caçoleta, pois, resignado, sobretudo por saber que deixava a jovem e viçosa mulher Sueli Gato, tenros 25 aninhos, em digna condição de vida – casa, bicicleta, dinheiro na poupança.

De tão decente que tem sido o companheiro Chico, a consciência e Sueli pesou e ela decidiu, na hora derradeira do marido entre os encarnados, abrir o jogo, contar tudo. Falou a um Chico arquejante que o traíra por vezes enquanto juntos, mas que arrependida estava, que nada daquilo gostaria houvesse acontecido, que isso e aquilo outro, que foi mal. O inocente do moribundo, coitado, ainda teve forças pra perguntar:

- Dá pra medir a quantidade desta traição, Sueli, minha bichinha?

- Sim...

- Cuma?

- Em caroço de milho...

- Quantos?

- Apenas 9 quilos e 300 gramas. O suficiente pra encher a lata de querosene jacaré que tá na despensa, e ainda sobra uma coisinha.

Por inacreditável, Chico suspirou aliviado com esses “9,3 quilos e 300 gramas de caroços de milho” de chifre. Sem a menor intenção de ferir, Sueli dá o golpe de misericórdia:

- Depois de encher a lata, ainda sobra milho pra engordar 35 galinhas, meu amor!

Os grandes descobrimentos

Maior orgulho do mundo um professor na família, e de História Universal, então! Professor Marinho era o cão por dentro das moitas em matéria de Grandes Navegações! Sabia tudo e mais uma ruma! Só não é a alegria maior do pai, seu Cróvi de Chico Noé, porque o velhinho anda já meio broco.

Chegada a hora da janta, ‘famiação’ comendo saúna na água grande com pirão escaldado, Marinho dá show, no canto da mesa:

- A Era dos Descobrimentos corresponde às explorações marítimas pioneiras realizadas por portugueses e espanhóis entre os séculos XV e XVI.

- É o fraco que eu digo? Esse conhece descobrimento! – disparou a mãe do mestre.

- O medo do mar foi um dos grandes desafios para a Era dos Descobrimentos.

Ouvindo o termo “medo”, seu Cróvi de Chico Noé, alheio ao tema em debate, mas com as atenções voltadas a lance corrente da história local, aparteia:

- Por falar em medo, Marinho, já descobriram quem roubou a fía do Zé Lourenço?

Fonte: O POVO, de 26/01/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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