Dinheiro pouco eu tenho muito
Da
Vila União, fofoca. Jair Moraes me conta que o vereador dele, pra mostrar
serviço no ano eleitoral, deu entrada em três projetos de lei em regime de
urgência-urgentíssima, que, por certo, não serão bem recebidos pelos
companheiros de vereança, pois bolem com a vida da comunidade e o pior: “O
inverno ainda nem começou”. Contou-me que é “arrumação de quem tem não tem o
que fazer. Onde já se viu uma marmota dessas? Coisa de quem não tem um pingo de
juízo!” Qual a trinca de projetos do parlamentar?
O
primeiro, por força da liseira em que se encontra o representante oposicionista
desde que nasceu (deve a Deus e a seu Raimundo), trata, ipsis litteris, de
“conscientizar os munícipes a se acostumarem a viver uma vida sem dinheiro”. O
segundo, tão inverossímil quanto, ordena o Executivo municipal a “adiantar o
dia em 25 minutos pra nunca mais ninguém perder um ônibus na Rodoviária porque
acordou tarde com ressaca”. O terceiro, nem a pau - Juvenal! - terá condição de
passar em votação no plenário:
-
“Não mais seja a cachaça uma bebida alcoólica”.
Questão pro Inmetro resolver
Chico
Mancebo, 92 anos, morre num morre de velhice. Por sinal, muito tranquilo estava
ele no fundo branquinho daquela rede em seus derradeiros instantes. Batia a
caçoleta, pois, resignado, sobretudo por saber que deixava a jovem e viçosa
mulher Sueli Gato, tenros 25 aninhos, em digna condição de vida – casa,
bicicleta, dinheiro na poupança.
De
tão decente que tem sido o companheiro Chico, a consciência e Sueli pesou e ela
decidiu, na hora derradeira do marido entre os encarnados, abrir o jogo, contar
tudo. Falou a um Chico arquejante que o traíra por vezes enquanto juntos, mas
que arrependida estava, que nada daquilo gostaria houvesse acontecido, que isso
e aquilo outro, que foi mal. O inocente do moribundo, coitado, ainda teve
forças pra perguntar:
-
Dá pra medir a quantidade desta traição, Sueli, minha bichinha?
-
Sim...
-
Cuma?
-
Em caroço de milho...
-
Quantos?
-
Apenas 9 quilos e 300 gramas. O suficiente pra encher a lata de querosene
jacaré que tá na despensa, e ainda sobra uma coisinha.
Por
inacreditável, Chico suspirou aliviado com esses “9,3 quilos e 300 gramas de
caroços de milho” de chifre. Sem a menor intenção de ferir, Sueli dá o golpe de
misericórdia:
-
Depois de encher a lata, ainda sobra milho pra engordar 35 galinhas, meu amor!
Os grandes descobrimentos
Maior
orgulho do mundo um professor na família, e de História Universal, então!
Professor Marinho era o cão por dentro das moitas em matéria de Grandes
Navegações! Sabia tudo e mais uma ruma! Só não é a alegria maior do pai, seu
Cróvi de Chico Noé, porque o velhinho anda já meio broco.
Chegada
a hora da janta, ‘famiação’ comendo saúna na água grande com pirão escaldado,
Marinho dá show, no canto da mesa:
-
A Era dos Descobrimentos corresponde às explorações marítimas pioneiras
realizadas por portugueses e espanhóis entre os séculos XV e XVI.
-
É o fraco que eu digo? Esse conhece descobrimento! – disparou a mãe do mestre.
-
O medo do mar foi um dos grandes desafios para a Era dos Descobrimentos.
Ouvindo
o termo “medo”, seu Cróvi de Chico Noé, alheio ao tema em debate, mas com as
atenções voltadas a lance corrente da história local, aparteia:
-
Por falar em medo, Marinho, já descobriram quem roubou a fía do Zé Lourenço?
Fonte: O POVO, de 26/01/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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