E assim sucessivamente sem
cessar!
Quem
entendia de som na cidade? Jotinha, também motorista da ambulância, do trator e
do ônibus escolar. E era preciso preparar pra já o palco que receberá grande
comício político, até o governador vem. Enfim, tudo pronto. Ou quase. O
prefeito, organizador do ato, dá pela falta de uma bateria (de carro) para
alimentar engrenagens do som. Lá em cima, autoridades coçando o gogó. Mas,
quedê bateria? Só havia uma saída:
-
Jotinha! Corra, pegue a bateria da ambulância e bote aqui! - ordenou o gestor
municipal.
-
Doutor, se rolar urgência e eu precisar usar a ambulância?
-
Tenha fé! Hoje aqui ninguém se engasga nem cai no cacimbão, corações não
pifarão!
De
fato, as preces foram ouvidas; o comício, um espetáculo. Dia seguinte, porém,
ambulância no prego - bateria descarregada, claro. E a sogra do prefeito
precisou ser levada às pressas pro Frotão, em Fortaleza. Prefeito só via uma
saída:
-
Jotinha! Corra, pegue a bateria do trator e bote aqui! - reordenou.
-
Doutor, e se bater urgência e um agricultor precisar virar um lote de terra?
-
Tenha fé! Chuva que é bom, esse ano, nem pra fazer um chá!
Uma vez bate-fofo, sempre furão
Chico
Ambrósio é a graça dele. A última: faltou ao velório do melhor amigo. A
desculpa dele, então, pasme! Certamente que qualquer de nós pode faltar a
compromissos, imprevistos acontecem. Mas, com ele, a coisa assume proporções
escandalosas. O amigão, Joaquim, morreu agora, em 5 de janeiro, e Chico não deu
as caras na vigília do defunto. A viúva ligou, dois dias, convidando para a
missa de sétimo dia. Chico...
-
E o enterro não é lá pro final de maio?!?
Uma pérola do amigo Sávio
Pinheiro
Na
cidade de Cedro foi preso o filho de um ilustre morador, detentor de muitas
posses. Como é de se separar em todo interior que se preze, formou-se logo
aquela roda de curiosos em frente à delegacia. Lá dentro, junto ao adolescente
infrator, estavam o delegado e o Juiz de Direito. Enquanto o Delegado relatava
ao Juiz o ilícito cometido pelo jovem, a todo instante se ouvia, do meio da
multidão, uma voz que se insurgia e colocava em dúvida a autoridade do
Magistrado:
-
Aposto que esse aí não dorme hoje nessa delegacia!
Desde
que ouviu tal afirmação, o Juiz se plantara nas venezianas para identificar o
autor da insinuação caluniosa, que ia de encontro à moral do administrador da
justiça, como se ele não tivesse autoridade suficiente para "segurar"
o filho do endinheirado local. Decorrido algum tempo, ouviu-se novamente o
ultraje disparado da multidão.
-
Aposto que esse aí não dorme nessa delegacia!
Depois
de vociferar várias vezes a dita ofensa, o Juiz conseguiu localizar o autor e
deu-lhe voz de prisão. "Caba safado! Teje preso!"
-
Tá pensando que não tenho autoridade pra prender qualquer um que ultrapasse os
limites da lei? Pois fique sabendo que agora você vai fazer companhia ao
detido!!!
O
sujeito ofensor, então, perguntou:
-
Mas, por que o senhor vai me prender, se eu não disse nada que lhe
desrespeitasse?
-
Como não, cabra safado! - retrucou o homem da Lei. - Você tava, a toda hora,
dizendo que esse meliante aqui não iria dormir na delegacia hoje!
Nessa
hora, o gozador repete, senhor de si:
-
E não vai dormir mesmo não, ora, ora! Com o tanto de muriçoca que tem aqui,
doutor, não tem ser humano nenhum que consiga!
Fonte: O POVO, de 23/02/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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