quarta-feira, 12 de junho de 2024

COMO UM FALCÃO BRILHANTE

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Entre as oscilações de melancolia e euforia surgiu-me a memória do personagem folclórico de Afanasyev. Não é uma simples alusão ao símbolo de força, mas a determinação de escrever sobre a vida, sobre o ir e vir, sobre ser útil e amante, sobre a simplicidade que ampara a nossa alma e o destino.

Assim, lapidei cada palavra, pois "a literatura é uma pintura, em certo sentido, quer dizer, um quadro e um espelho; uma expressão da paixão, uma crítica fina, instrutiva, e enfim um documento." Tudo para não quedar em ausência, na perspectiva de deixar se levar sem rumo.

Creio que é justo e imprescindível afoitar-se na análise da história, especialmente sobre as agruras atemporais. Dessa forma, espero humildemente, estar contribuindo para indignação permanente de jovens e velhos, cada um a sua forma, respeitando as diferenças. Pois, cada qual é cada qual.

É sob tal ótica, que a meu ver, estamos em mais uma brusca transformação. Uma página de sentimentos mutantes, aliados à composição de uma evidente falência do sistema econômico e social que traz consigo uma insegurança sobre a sobrevivência.

Assim, se é óbvio o desenvolvimento e suas múltiplas vantagens e facilidades, também estão presentes proporcionais aumentos da angústia e da ansiedade, em parte, advindas do silêncio, da conivência e da individualidade excessiva.

Nesse contexto, juntamente com a "meritocracia" e o aumento da produtividade, cresce, também, a sensação de impotência e o descontentamento.

Esvai-se, nessas circunstâncias, uma provável harmonia que desejamos.

E assim é o agora! Sem lideranças, sem legitimidade, sem crítica, enfim, sem lenço e sem documento.

Por outro lado, somos entristecidos, quando nos falta coragem de por o dedo na ferida, de expor as contradições, mesmo que pareça utopia crer em algo diferente.

Falo sobre o descontentamento, sobre o medo, mas, também, da percepção de um certo atordoamento.

Assistimos, enfim, a uma apatia, quando já não há despedidas com esperança do reencontro. De alguma forma esse sentimento afoga os devaneios literários que construíram nossas memórias.

Já não há ontem nem o amanhã, surge o somente agora, sem concepção de razão.

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/05/2024. Opinião. p.19.

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