Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Entre
as oscilações de melancolia e euforia surgiu-me a memória do personagem
folclórico de Afanasyev. Não é uma simples alusão ao símbolo de força, mas a
determinação de escrever sobre a vida, sobre o ir e vir, sobre ser útil e
amante, sobre a simplicidade que ampara a nossa alma e o destino.
Assim,
lapidei cada palavra, pois "a literatura é uma pintura, em certo sentido,
quer dizer, um quadro e um espelho; uma expressão da paixão, uma crítica fina,
instrutiva, e enfim um documento." Tudo para não quedar em ausência, na
perspectiva de deixar se levar sem rumo.
Creio
que é justo e imprescindível afoitar-se na análise da história, especialmente
sobre as agruras atemporais. Dessa forma, espero humildemente, estar
contribuindo para indignação permanente de jovens e velhos, cada um a sua
forma, respeitando as diferenças. Pois, cada qual é cada qual.
É sob
tal ótica, que a meu ver, estamos em mais uma brusca transformação. Uma página
de sentimentos mutantes, aliados à composição de uma evidente falência do
sistema econômico e social que traz consigo uma insegurança sobre a
sobrevivência.
Assim,
se é óbvio o desenvolvimento e suas múltiplas vantagens e facilidades, também
estão presentes proporcionais aumentos da angústia e da ansiedade, em parte,
advindas do silêncio, da conivência e da individualidade excessiva.
Nesse
contexto, juntamente com a "meritocracia" e o aumento da
produtividade, cresce, também, a sensação de impotência e o descontentamento.
Esvai-se,
nessas circunstâncias, uma provável harmonia que desejamos.
E assim
é o agora! Sem lideranças, sem legitimidade, sem crítica, enfim, sem lenço e
sem documento.
Por
outro lado, somos entristecidos, quando nos falta coragem de por o dedo na
ferida, de expor as contradições, mesmo que pareça utopia crer em algo
diferente.
Falo
sobre o descontentamento, sobre o medo, mas, também, da percepção de um certo
atordoamento.
Assistimos,
enfim, a uma apatia, quando já não há despedidas com esperança do reencontro.
De alguma forma esse sentimento afoga os devaneios literários que construíram
nossas memórias.
Já não
há ontem nem o amanhã, surge o somente agora, sem concepção de razão.
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/05/2024. Opinião. p.19.
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