terça-feira, 16 de julho de 2024

Era uma vez um jardim que se chamava Terra

Por Sofia Lerche Vieira (*)

A reflexão sobre a crise do clima faz evocar a voz suave de Nara Leão, musa da bossa nova que tão cedo partiu, cantarolando "Era uma vez um jardim que se chamava Terra. Como fruto maduro brilhava ao sol". Os versos dessa canção, concebida para sensibilizar crianças que viviam entre o asfalto e o cimento armado, parecem ganhar especial sentido diante das sucessivas revoltas da natureza contra os desmandos humanos.

Ao percorrer os seis biomas brasileiros na Expedição Escolas do Brasil (https://www.uece.br/eduece/wp-content/uploads/sites/88/2023/09/Expedição-Escolas-do-Brasil-1.pdf), pouco antes da pandemia, um grupo de pesquisadoras de universidades brasileiras constatou o baixo grau de envolvimento das escolas com questões de meio ambiente e sustentabilidade. Tal problema se tornou mais evidente nos últimos anos. Passamos a viver em um planeta em transe devido a enchentes, incêndios e cataclismas os mais diversos. O que antes eram exceções climáticas incorporou-se ao cotidiano da maioria das pessoas nos mais diferentes territórios. E se esta crise atinge a todos, por certo, é ainda mais dura para os mais vulneráveis.

Tal lacuna tem motivações diversas que extrapolam o espaço dessa reflexão. Todavia uma de suas causas é expressão da escassa preocupação social e econômica com este elemento crucial do processo de formação para a cidadania, aí incluindo formuladores e implementadores de políticas públicas em educação. Uma análise das orientações curriculares que estabelecem parâmetros para a educação no país - a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - evidencia que este é um tema praticamente ausente do currículo. Do mesmo modo, a União, os Estados e os Municípios possuem pouquíssimas iniciativas sob a forma de programas e projetos com foco ambiental. Isto precisa mudar.

Em um contexto de urgente e necessária preservação e restauro do meio ambiente, a conscientização de crianças, jovens e adultos estudantes pode vir a desempenhar papel crucial. Eles não merecem conviver com um planeta em transe. Por eles vale a pena lutar por um jardim que se chame Terra.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/06/24. Opinião. p.20.

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