Por Sofia Lerche Vieira (*)
A reflexão sobre a crise
do clima faz evocar a voz suave de Nara Leão, musa da bossa nova que
tão cedo partiu, cantarolando "Era uma vez um jardim que se chamava Terra.
Como fruto maduro brilhava ao sol". Os versos dessa canção, concebida para
sensibilizar crianças que viviam entre o asfalto e o cimento armado, parecem
ganhar especial sentido diante das sucessivas revoltas da natureza contra os
desmandos humanos.
Ao percorrer os seis
biomas brasileiros na Expedição Escolas do Brasil
(https://www.uece.br/eduece/wp-content/uploads/sites/88/2023/09/Expedição-Escolas-do-Brasil-1.pdf),
pouco antes da pandemia, um grupo de pesquisadoras de universidades brasileiras
constatou o baixo grau de envolvimento das escolas com questões de meio
ambiente e sustentabilidade. Tal problema se tornou mais evidente nos últimos
anos. Passamos a viver em um planeta em transe devido a enchentes, incêndios e
cataclismas os mais diversos. O que antes eram exceções climáticas
incorporou-se ao cotidiano da maioria das pessoas nos mais diferentes
territórios. E se esta crise atinge a todos, por certo, é ainda mais dura para
os mais vulneráveis.
Tal lacuna tem
motivações diversas que extrapolam o espaço dessa reflexão. Todavia uma de suas
causas é expressão da escassa preocupação social e econômica com este elemento
crucial do processo de formação para a cidadania, aí incluindo formuladores e
implementadores de políticas públicas em educação. Uma análise das orientações
curriculares que estabelecem parâmetros para a educação no país - a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) - evidencia que este é um tema praticamente
ausente do currículo. Do mesmo modo, a União, os Estados e os Municípios
possuem pouquíssimas iniciativas sob a forma de programas e projetos com foco
ambiental. Isto precisa mudar.
Em um contexto de
urgente e necessária preservação e restauro do meio ambiente, a conscientização
de crianças, jovens e adultos estudantes pode vir a desempenhar papel crucial.
Eles não merecem conviver com um planeta em transe. Por eles vale a pena lutar
por um jardim que se chame Terra.
(*) Professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/06/24. Opinião. p.20.
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