De O Povo, Editorial
Celebrar um centenário de vida já é motivo notável para ser
destacado. Quando se fala de 100 anos de dom Edmilson da Cruz, esse destaque
precisa ser mais relevante ainda, pelo extraordinário de homem que ele é. O
bispo emérito de Limoeiro do Norte chega a um século de vida neste mês de
outubro e é o bispo católico mais idoso de todo o Brasil. Experiente na idade,
mas a lucidez e a humanização com que trata todo assunto se renovam cada vez
mais e fazem de seu legado algo sempre moderno e atual.
A data foi comemorada no dia 3, dia de seu nascimento, com
celebração presidida pelo arcebispo de Fortaleza, dom Gregório Paixão. Reuniu
vários sacerdotes, demais religiosos e outros convidados para festejar a vida
marcada com o ativismo social e espiritual da vocação de dom Edmilson.
Um homem comprometido com a luta em defesa dos mais pobres, que
sempre que se colocou contra todo tipo de injustiça, anunciando o Evangelho em
que acredita, mas, sobretudo, colocando-o em prática. Em 2010, foi convidado a
receber a Comenda dos Direitos Humanos Dom Helder Câmara do Senado Federal, mas
recusou em discurso no plenário do próprio Senado. A atitude foi um protesto
contra o aumento salarial de 61,8% aprovado pelos parlamentares em causa
própria. "Quem assim procedeu não é parlamentar, é para lamentar",
disse.
Para dom Edmilson, a comenda que lhe foi oferecida não honra a
história de dom Helder Câmara, um religioso conhecido pela atuação destacada na
luta pelos direitos humanos durante o regime militar. "A comenda hoje outorgada
não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Helder Câmara. Não
representa. Desfigura-a, porém. Sem ressentimentos e agindo por amor e por
respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me
resta uma atitude: recusá-la. Ela é um atentado, uma afronta ao povo
brasileiro, ao cidadão, à cidadã contribuinte para o bem de todos, com o suor
de seu rosto e a dignidade de seu trabalho", afirmou dom Edmilson à época.
Com uma vida doada à partilha, à generosidade e à sabedoria
humanista, dom Edmilson é o retrato vivo do Evangelho cristão em defesa dos
direitos humanos. Sua luta em busca da justiça social foi amplamente conhecida
quando era bispo auxiliar de Fortaleza junto com dom Aloísio Lorscheider.
Servir a Deus estando perto das pessoas mais vulneráveis o movia. Assim,
conduziram a pastoral carcerária, visitando pessoas privadas de liberdade e
apurando denúncias sobre violação de direitos humanos no sistema prisional
cearense.
Em 1994, durante visita ao antigo Instituto Penal Paulo Sarasate
(IPPS), na Região Metropolitana de Fortaleza, eles foram vítimas de um
sequestro que culminou após rebelião de internos e durou cerca de 24 horas. A
conduta deles em todo o episódio chamou a atenção do País e gerou comoção no
Estado.
Neste ano de 2024, fez questão de ir às urnas e depositar seu voto
no domingo 6 de outubro. Na ocasião, pediu que "Deus abençoe os eleitos
para que exerçam suas funções com sabedoria, humildade e defendendo sempre os
mais desfavorecidos".
Que o legado de dom Edmilson inspire a gestores públicos e a toda a
sociedade de forma que a preocupação com os injustiçados e vulneráveis seja
sempre o objetivo maior.
Parabéns, dom Edmilson!
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/10/24. Opinião p.18.
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