domingo, 25 de maio de 2025

Íntegra da entrevista com o Prof. José Lima, diretor do Colégio Christus – Parte III

Entrevista conduzida por Larissa Viegas, jornalista de O Povo.

José Lima de Carvalho Rocha: o médico que se baseia na filosofia cristã e se encanta pelo poder da IA

OP - Os esportes, as artes e até o meio ambiente sempre fizeram parte da educação do Christus. Para o senhor, o que eles representam hoje? Vê como algo que foi visionário, vanguardista do colégio?

José - Eu entendo a educação como algo que integra muitas atividades humanas. Nós não formamos matemáticos, nós não formamos especialistas na língua portuguesa. O ensino médio, o ensino fundamental, até a educação infantil, forma pessoas para um conhecimento básico de tudo, com a formação para o trabalho ou para prosseguir os seus estudos no superior.

A arte é essencial para desenvolver criatividade, saber trabalhar em equipe. E tudo isso foi utilizado dentro de um objetivo maior, para formar esse cidadão e desenvolver talentos, alguns inatos, outros não, que ele vai necessitar no ensino superior e depois na vida profissional.

O esporte é a mesma coisa. Novamente, ajuda muito a trabalhar em equipe. E não existe uma mente que funciona bem, sem o corpo funcionando muito bem. Isso que é importante, que a gente pense nas artes, pense no esporte, como atividades que integram um eixo central, que é educar.

Educar tem a ver com essa formação e envolve tudo isso. Se você ficar preso só a ciências, história, geografia, química, física, você não está formando cidadão. Você está instruindo alguém com alguma informação que poderá até usar para fazer as coisas erradas.

OP - Hoje, crianças e jovens passam muito tempo na escola. Qual é a percepção que o senhor e toda a equipe do Christus têm do papel dela hoje para as famílias?

José - Tirando essa questão da educação integral, a maior parte das crianças e adolescentes, mesmo que passem 6 horas, 8 horas por dia aqui, o resto do tempo é em casa.

Ou seja, temos que trabalhar juntos, escola e família. A nossa responsabilidade é muito grande no sentido de orientar as famílias a como educar seus filhos dentro dos seus próprios valores. Nós respeitamos e precisamos respeitar a forma como as famílias querem educar seus filhos.

As famílias já sabem como a escola funciona quando nos procuram. Explicamos mais algumas coisas para que não haja esse choque, vamos chamar, cultural, ou de objetivos. De querer que a escola seja de uma maneira, que forme de um jeito, e a escola tá formando de outro.

Se não houver essa coesão, vai existir um grande conflito na mente de uma criança ou de um adolescente. O que eu noto de diferente hoje é que nós temos que trabalhar com os valores de uma forma mais intensa e mais forte do que era trabalhado no passado.

OP - O senhor, pessoalmente, é um admirador da inteligência artificial. Como o colégio tem lidado com essas mudanças tecnológicas, o uso de IA? O senhor acha importante introduzir isso na educação?

José - Estamos vivendo uma mudança tecnológica muito intensa. E isso tem um crescimento exponencial, vai crescendo muito rapidamente. É crescimento em cima de crescimento e é como se fosse um juro composto.

Vai aumentando muito rápido. Então aumenta a produtividade em todas as profissões, desde que você saiba trabalhar com a inteligência artificial. Primeiro que você não pode brigar com ela. Tem que entender, tem que aprender a gostar, e utilizar no que você quer desenvolver.

Eu gosto muito de ler, já tive outras preferências, mas quando surgiu (a IA), é como se eu tivesse esperando há muito tempo. Quando veio, eu disse: “pronto, me alcançou. Eu estou vivo e com consciência para aproveitar isso”.

Então, estou utilizando na educação. Tanto para elaborar programas de aula, elaborar questões de prova, corrigir questões de prova. Estou estudando uma forma de corrigir redações do Enem, dos alunos, para ver se fica parecido com a nota que eles dão.

Nunca vai ser igual, porque duas pessoas diferentes corrigem duas redações diferentes, quanto mais um cérebro desse de uma inteligência artificial, que também é muito construído da forma como nós raciocinamos.

Agora, temos que preparar os alunos para isso. Em vez da gente fugir da inteligência artificial, a gente tem que ensinar os alunos a usar, porque vai ser um diferencial competitivo no trabalho deles.

Faço imagens, faço muita coisa. E como meu tempo lúcido vai diminuindo, eu tenho que correr para aprender isso com muita rapidez e tirar melhor benefício para o meu trabalho. Seja no ensino básico, seja no ensino superior.

OP - E outras mudanças na educação, Novo Ensino Médio, Enem… Como que o colégio tem lidado?

José - O Novo Ensino Médio é muito interessante, é muito bom. Nós começamos a praticá-lo ainda antes dele virar lei. A gente já está estabilizado, possibilitando que os alunos escolham o caminho que eles possam querer.

Uma das coisas que diferencia: aqueles que gostam mais de matemática e física, tem uma trilha para eles. Aqueles que gostam mais de português, geografia, história, já tem outra trilha. E assim vai.

Então, a gente criou essas trilhas, como depois foi batizado, antes mesmo de estar valendo, uns dois, três anos antes da pandemia, que aconteceu essa efetivação. E se mudar, a gente muda de novo.

OP - E como foi a aceitação dos pais?

José - Existem várias maneiras de você aplicar mudanças. Uma delas é ser lenta e gradual e explicando direitinho e mostrando os benefícios que essas mudanças vão trazer.

Na hora que o aluno que gosta mais de física e matemática vai para uma área que tem outros como ele que gostam, isso ajuda muito ele a desenvolver esse caminho. A mesma coisa na área de humanas.

Embora eu tenha começado profissionalmente depois no colégio, eu peguei muita coisa da experiência que aprendi com meus pais, com os professores que vieram antes da gente... E a gente adotando e implementando isso aos poucos, não tem dificuldade nenhuma e nem tem reação negativa.

O que os pais acham ruim são mudanças rápidas. Qualquer mudança envolve reação. Se você também age lentamente, a reação vem lenta, você vai dando para desmanchar isso devagarzinho e mostrando que é melhor.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/2025. Reportagem. Legados. p.13-15.

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