Entrevista conduzida por
Larissa Viegas, jornalista de O Povo.
José Lima de Carvalho
Rocha: o médico que se baseia na filosofia cristã e se encanta pelo poder da IA
OP - Os esportes, as
artes e até o meio ambiente sempre fizeram parte da educação do Christus. Para
o senhor, o que eles representam hoje? Vê como algo que foi visionário,
vanguardista do colégio?
José - Eu entendo a
educação como algo que integra muitas atividades humanas. Nós não formamos
matemáticos, nós não formamos especialistas na língua portuguesa. O ensino
médio, o ensino fundamental, até a educação infantil, forma pessoas para um
conhecimento básico de tudo, com a formação para o trabalho ou para prosseguir
os seus estudos no superior.
A arte é essencial
para desenvolver criatividade, saber trabalhar em equipe. E tudo isso foi
utilizado dentro de um objetivo maior, para formar esse cidadão e desenvolver
talentos, alguns inatos, outros não, que ele vai necessitar no ensino superior
e depois na vida profissional.
O esporte é a mesma
coisa. Novamente, ajuda muito a trabalhar em equipe. E não existe uma mente que
funciona bem, sem o corpo funcionando muito bem. Isso que é importante, que a
gente pense nas artes, pense no esporte, como atividades que integram um eixo
central, que é educar.
Educar tem a ver com
essa formação e envolve tudo isso. Se você ficar preso só a ciências, história,
geografia, química, física, você não está formando cidadão. Você está
instruindo alguém com alguma informação que poderá até usar para fazer as
coisas erradas.
OP - Hoje, crianças e
jovens passam muito tempo na escola. Qual é a percepção que o senhor e toda a
equipe do Christus têm do papel dela hoje para as famílias?
José - Tirando essa
questão da educação integral, a maior parte das crianças e adolescentes, mesmo
que passem 6 horas, 8 horas por dia aqui, o resto do tempo é em casa.
Ou seja, temos que
trabalhar juntos, escola e família. A nossa responsabilidade é muito grande no
sentido de orientar as famílias a como educar seus filhos dentro dos seus
próprios valores. Nós respeitamos e precisamos respeitar a forma como as
famílias querem educar seus filhos.
As famílias já sabem
como a escola funciona quando nos procuram. Explicamos mais algumas coisas para
que não haja esse choque, vamos chamar, cultural, ou de objetivos. De querer
que a escola seja de uma maneira, que forme de um jeito, e a escola tá formando
de outro.
Se não houver essa
coesão, vai existir um grande conflito na mente de uma criança ou de um
adolescente. O que eu noto de diferente hoje é que nós temos que trabalhar com
os valores de uma forma mais intensa e mais forte do que era trabalhado no
passado.
OP - O senhor,
pessoalmente, é um admirador da inteligência artificial. Como o colégio tem
lidado com essas mudanças tecnológicas, o uso de IA? O senhor acha importante
introduzir isso na educação?
José - Estamos vivendo
uma mudança tecnológica muito intensa. E isso tem um crescimento exponencial,
vai crescendo muito rapidamente. É crescimento em cima de crescimento e é como
se fosse um juro composto.
Vai aumentando muito
rápido. Então aumenta a produtividade em todas as profissões, desde que você
saiba trabalhar com a inteligência artificial. Primeiro que você não pode
brigar com ela. Tem que entender, tem que aprender a gostar, e utilizar no que
você quer desenvolver.
Eu gosto muito de
ler, já tive outras preferências, mas quando surgiu (a IA), é como se eu
tivesse esperando há muito tempo. Quando veio, eu disse: “pronto, me alcançou.
Eu estou vivo e com consciência para aproveitar isso”.
Então, estou
utilizando na educação. Tanto para elaborar programas de aula, elaborar
questões de prova, corrigir questões de prova. Estou estudando uma forma de
corrigir redações do Enem, dos alunos, para ver se fica parecido com a nota que
eles dão.
Nunca vai ser igual,
porque duas pessoas diferentes corrigem duas redações diferentes, quanto mais
um cérebro desse de uma inteligência artificial, que também é muito construído
da forma como nós raciocinamos.
Agora, temos que
preparar os alunos para isso. Em vez da gente fugir da inteligência artificial,
a gente tem que ensinar os alunos a usar, porque vai ser um diferencial
competitivo no trabalho deles.
Faço imagens, faço
muita coisa. E como meu tempo lúcido vai diminuindo, eu tenho que correr para
aprender isso com muita rapidez e tirar melhor benefício para o meu trabalho.
Seja no ensino básico, seja no ensino superior.
OP - E outras
mudanças na educação, Novo Ensino Médio, Enem… Como que o colégio tem lidado?
José - O Novo Ensino Médio
é muito interessante, é muito bom. Nós começamos a praticá-lo ainda antes dele
virar lei. A gente já está estabilizado, possibilitando que os alunos escolham
o caminho que eles possam querer.
Uma das coisas que
diferencia: aqueles que gostam mais de matemática e física, tem uma trilha para
eles. Aqueles que gostam mais de português, geografia, história, já tem outra
trilha. E assim vai.
Então, a gente criou
essas trilhas, como depois foi batizado, antes mesmo de estar valendo, uns
dois, três anos antes da pandemia, que aconteceu essa efetivação. E se mudar, a
gente muda de novo.
OP - E como foi a
aceitação dos pais?
José - Existem várias
maneiras de você aplicar mudanças. Uma delas é ser lenta e gradual e explicando
direitinho e mostrando os benefícios que essas mudanças vão trazer.
Na hora que o aluno
que gosta mais de física e matemática vai para uma área que tem outros como ele
que gostam, isso ajuda muito ele a desenvolver esse caminho. A mesma coisa na
área de humanas.
Embora eu tenha
começado profissionalmente depois no colégio, eu peguei muita coisa da
experiência que aprendi com meus pais, com os professores que vieram antes da
gente... E a gente adotando e implementando isso aos poucos, não tem
dificuldade nenhuma e nem tem reação negativa.
O que os pais acham
ruim são mudanças rápidas. Qualquer mudança envolve reação. Se você também age
lentamente, a reação vem lenta, você vai dando para desmanchar isso
devagarzinho e mostrando que é melhor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/05/2025. Reportagem. Legados. p.13-15.
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