Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
“Vocês
representam quase 500 mil profissionais e meu compromisso não é de campanha, é
de brasileiro preocupado e responsável pelo futuro dessa classe tão
importante”, assinalou o presidente da República. Segundo disse, o Congresso
tem outorga para fazer alterações na MP, mas entende que os parlamentares devem
preservar a proposta como foi encaminhada pelo Executivo. O presidente
Bolsonaro ressaltou em mais de uma oportunidade que a atuação no Brasil de
profissional formado em medicina em outros países deve estar condicionada à sua
aprovação no exame de revalidação de diplomas. “Quem fez o Revalida, se for
aprovado, tudo bem”, destacou. Conferir: http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=28465:2019-10-04-18-19-28&catid=3
Será que adianta apenas revalidar um diploma médico (estrangeiro ou
obtido fora de uma Faculdade de Medicina situada no Brasil, mesmo que o
portador seja de nacionalidade brasileira} para praticar corretamente a
Medicina? Como perguntar não ofende: os formados em nossas escolas médicas
também não deveriam ser avaliados?
Explico com mais detalhes:
O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) é uma
prova criada pelos Ministérios da Educação e da Saúde para simplificar o
processo de reconhecimento de diplomas de medicina emitidos por instituições de
ensino estrangeiras para atuação como médico no Brasil. A primeira edição do
Revalida foi em 2010 como projeto piloto e o exame tornou-se oficial a partir
de 2011.
No entanto, dada a grande demanda de inscrições de portadores de
diplomas médicos estrangeiros, o exame entrou em crise em 2017, quando
recebeu 1.337 ações judiciais de candidatos que tiveram a inscrição
negada por falta de entrega dos documentos no prazo determinado. Isso ocorreu,
na maioria das vezes, por demora na obtenção dos documentos necessários das
universidades estrangeiras onde se graduaram.
Basta dizer que o resultado do Revalida de 2017 somente foi publicado em
2019. E, pasmem: dos 7.379 inscritos, 389 (5,27%) conseguiram revalidar
seu diploma médico! Algo de mais profundo deveria estar acontecendo com o processo
avaliatório ou com os examinandos ou com ambos... Isso demandou uma reforma do
processo de revalidar os diplomas, na maioria das vezes emitidos em
países vizinhos... com suas deficiências e facilidades conhecidas.
Por certo, deveríamos primeiro examinar o aumento exagerado de escolas
médicas no território brasileiro ao ponto de sermos, em números, somente
ultrapassados pela Índia (Índia: 392 escolas médicas para 1.210.569.573
habitantes/ Brasil: 336 escolas médicas para 201.032.714 habitantes); enquanto
nos Estados Unidos existem 184 faculdades de medicina para uma população de
317.641.087 milhões de habitantes. Isso sem falar da China onde, com seus
1.354.040.000 milhões de habitantes, estão registradas apenas 158 Faculdades de
Medicina.
Entendo que a falta e a má distribuição de serviços de Medicina são
enormes, mesmo nas grandes cidades brasileiras. O povo pede, na sua
linguagem “Mais Médicos” e não Mais Medicina, o que é dessemelhante.
Medicina engloba pessoas que trabalham nichos de tecnólogos
em radiologia, agentes de saúde pública, entre outros. O POVO não pediu
mais Faculdades ou Escolas Médicas, mas foi isso que recebeu. Um desequilíbrio
ultrajante para eles (POVO). Um escárnio para a Medicina.
Às vezes temos de recorrer ao poeta Manuel Bandeira (1993) quando diz:
“A vida não me chegava pelos
jornais nem pelos livros. Vinha da boca do povo na língua errada do povo/Língua
certa do povo/Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil/Ao passo que
nós/O que fazemos/É macaquear/A sintaxe lusíada”.
Brasília não entende ou faz de conta que não entende. De uma coisa
entendo eu: assim como um médico sozinho não faz milagres, centenas de
faculdades de medicina atrapalham, em vez de ajudar...
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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