quinta-feira, 23 de setembro de 2021

MAIS MÉDICOS ou MAIS MEDICINA

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Vocês representam quase 500 mil profissionais e meu compromisso não é de campanha, é de brasileiro preocupado e responsável pelo futuro dessa classe tão importante”, assinalou o presidente da República. Segundo disse, o Congresso tem outorga para fazer alterações na MP, mas entende que os parlamentares devem preservar a proposta como foi encaminhada pelo Executivo. O presidente Bolsonaro ressaltou em mais de uma oportunidade que a atuação no Brasil de profissional formado em medicina em outros países deve estar condicionada à sua aprovação no exame de revalidação de diplomas. “Quem fez o Revalida, se for aprovado, tudo bem”, destacou. Conferirhttp://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=28465:2019-10-04-18-19-28&catid=3

Será que adianta apenas revalidar um diploma médico (estrangeiro ou obtido fora de uma Faculdade de Medicina situada no Brasil, mesmo que o portador seja de nacionalidade brasileira} para praticar corretamente a Medicina? Como perguntar não ofende: os formados em nossas escolas médicas também não deveriam ser avaliados?

Explico com mais detalhes:

O Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) é uma prova criada pelos Ministérios da Educação e da Saúde para simplificar o processo de reconhecimento de diplomas de medicina emitidos por instituições de ensino estrangeiras para atuação como médico no Brasil. A primeira edição do Revalida foi em 2010 como projeto piloto e o exame tornou-se oficial a partir de 2011.

No entanto, dada a grande demanda de inscrições de portadores de diplomas médicos estrangeiros, o exame entrou em crise em 2017, quando recebeu 1.337 ações judiciais de candidatos que tiveram a inscrição negada por falta de entrega dos documentos no prazo determinado. Isso ocorreu, na maioria das vezes, por demora na obtenção dos documentos necessários das universidades estrangeiras onde se graduaram.

Basta dizer que o resultado do Revalida de 2017 somente foi publicado em 2019. E, pasmem: dos 7.379 inscritos, 389 (5,27%) conseguiram revalidar seu diploma médico! Algo de mais profundo deveria estar acontecendo com o processo avaliatório ou com os examinandos ou com ambos... Isso demandou uma reforma do processo de revalidar os diplomas, na maioria das vezes emitidos em países vizinhos... com suas deficiências e facilidades conhecidas.

Por certo, deveríamos primeiro examinar o aumento exagerado de escolas médicas no território brasileiro ao ponto de sermos, em números, somente ultrapassados pela Índia (Índia: 392 escolas médicas para 1.210.569.573 habitantes/ Brasil: 336 escolas médicas para 201.032.714 habitantes); enquanto nos Estados Unidos existem 184 faculdades de medicina para uma população de 317.641.087 milhões de habitantes. Isso sem falar da China onde, com seus 1.354.040.000 milhões de habitantes, estão registradas apenas 158 Faculdades de Medicina.

Entendo que a falta e a má distribuição de serviços de Medicina são enormes, mesmo nas grandes cidades brasileiras. O povo pede, na sua linguagem “Mais Médicos” e não Mais Medicina, o que é dessemelhante. Medicina engloba pessoas que trabalham nichos de tecnólogos em radiologia, agentes de saúde pública, entre outros. O POVO não pediu mais Faculdades ou Escolas Médicas, mas foi isso que recebeu. Um desequilíbrio ultrajante para eles (POVO). Um escárnio para a Medicina.

Às vezes temos de recorrer ao poeta Manuel Bandeira (1993) quando diz:

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros. Vinha da boca do povo na língua errada do povo/Língua certa do povo/Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil/Ao passo que nós/O que fazemos/É macaquear/A sintaxe lusíada”.

Brasília não entende ou faz de conta que não entende. De uma coisa entendo eu: assim como um médico sozinho não faz milagres, centenas de faculdades de medicina atrapalham, em vez de ajudar...

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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