terça-feira, 1 de novembro de 2022

A HISTÓRIA SE REPETE?

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Os livros de história ensinam que a Confederação do Equador foi um movimento separatista ocorrido no Nordeste nos idos de 1824. Naquela oportunidade, lideradas por Pernambuco, províncias da região participaram da revolta contra o autoritarismo de Dom Pedro I, unindo-se na defesa do regime republicano. O Ceará foi protagonista importante dos embates então travados. O movimento foi sufocado pelo poder central, sendo alguns de seus líderes presos e mortos.

Personagens que hoje nomeiam ruas de Fortaleza foram atores decisivos da trama confederada. Todos com trágico final. Tristão Gonçalves, presidente eleito do Ceará, teve sua cabeça colocada a prêmio, sendo morto em batalha. Padre Mororó, intelectual orgânico do movimento separatista, foi capturado e executado em Praça Pública. Pereira Filgueiras foi preso e morreu a caminho do Rio de Janeiro. Considerados traidores na época, foram reabilitados e reconhecidos como mártires do movimento pela República.

Esses ecos históricos ressoam no presente, quando nordestinos são amaldiçoados em redes sociais por grupos de extrema direita por terem votado no ex-presidente Lula (PT) no primeiro turno das eleições presidenciais. Agravando tal situação, o atual presidente justifica tal vitória pelo analfabetismo dos cidadãos nordestinos.

Se o sonho dos confederados do passado tivesse se materializado e o Nordeste fosse um país, Lula já estaria eleito. No Ceará esta preferência foi expressa com clareza por uma maioria de 65, 91% de votos contra 25,38% daqueles dados ao presidente no poder.

Pelo país e no exterior, milhares de vozes se insurgem contra o inominável preconceito mais uma vez manifesto. A hora é de unir forças e defender de forma intransigente a igualdade de todos perante a lei "sem distinção de qualquer natureza", assim como a livre "manifestação do pensamento", como afirma a Constituição de 1988 (Art. 5°). A luta que se avizinha no segundo turno é muito mais que uma histórica questão de discriminação. Trata-se de optar entre a democracia e o autoritarismo, entre a civilização e a barbárie. E de retomar o sonho republicano.

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/10/22. Opinião, p.18.

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