domingo, 23 de julho de 2023

O ITA NO CEARÁ: presente de grego?

A grande mídia nacional anunciou a instalação de uma unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no Ceará, obtendo notável reverberação na terra alencarina por ter sido a escolhida para albergar a afamada escola de engenharia aeronáutica sediada em São José dos Campos-SP.

A principal justificativa técnica para a implantação dessa primeira unidade fora de sede repousa na massiva presença de cearenses entre os aprovados no vestibular do ITA, tido e havido como o mais difícil no Brasil, em decorrência da acirrada e diferenciada concorrência por vaga, despertando interesse em vestibulandos da maior qualidade e de distintos pontos do País.

A Globo News, em matéria fartamente postada em grupos de WhatsApp locais, apontou que, nos últimos dois anos, os cearenses amealharam mais de 20% das novas matrículas do ITA, percentagem essa que passava dos 40% ao se computarem outros candidatos nordestinos que estudaram em cursinhos preparatórios do Ceará, e assinalou, em uma análise aligeirada, que tal extensão do ITA facilitaria a economia doméstica das famílias nordestinas, que gastam muito para manter seus filhos em São Paulo, e ainda evitaria as perdas de rapazes e moças que arranjariam seus futuros cônjuges entre paulistas.

O último motivo arrolado excepcionalmente ocorre, pois os iteanos cearenses só muito raramente contraem núpcias com pessoas com as quais desenvolveram relações de afeto durante a graduação. O primeiro motivo não tem tanto peso no orçamento familiar, posto que os aprovados no vestibular do ITA são, quase sempre, oriundos de famílias de bem aquinhoadas financeiramente e estudaram em boas escolas particulares do Ceará.

Na verdade, com uma unidade do ITA no Ceará se aumentará a chance de ingresso dos paulistas na sede de São José dos Campos, uma vez que não teriam os concorrentes inscritos no Ceará.

Os iteanos, em sua maioria, não são absorvidos na Aeronáutica, com exceção dos que concorrem às vagas de militares, os quais, amiúde, se desligam da Força Aérea depois de cumprirem o tempo mínimo de permanência, optando por trabalharem em atividades civis. Aliás, a maioria dos formados no ITA passa a atuar no mercado financeiro, o que incluem empresas fora do Brasil.

Fazer a graduação fora do estado de origem, como se observa muito nos EUA, bem longe das asas maternas, é muito importante para propiciar maturidade e independência aos nossos rebentos.

O ambiente de convivência e de amizade dos iteanos no alojamento do H8, ao lado do absoluto foco nos estudos, dificilmente se reproduzirá nas instalações da Base Aérea de Fortaleza.

Prof. Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras

Nota: Publicado, com ajustes, In: O Povo, de 23/07/2023. Opinião. p.19.

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