terça-feira, 4 de junho de 2024

TRAGÉDIA INVISÍVEL

Por Saraiva Junior (*)

Nunca me conformei com a situação dos moradores de rua. Sei que não é uma questão que afeta apenas o Brasil. Ao pesquisar, constatei que em Paris e Londres, por exemplo, duas cidades progressistas, há um histórico antigo de pessoas em situação de rua. Em algumas cidades dos Estados Unidos, símbolo do desenvolvimento capitalista, atualmente existem muitas famílias que habitam parques e estacionamentos para trailers.

Em Fortaleza, nos anos setenta do século XX, já havia algumas pessoas a mendigar e deambular pelas praças do centro. O poeta Mário Gomes também ocupou a Praça do Ferreira. Após alguns anos de seca, no início dos anos oitenta, o número de pessoas que passaram a morar nas ruas do centro da cidade aumentou consideravelmente.

Até aqui, nenhuma novidade. Tratam-se das contradições do regime de produção capitalista que relega a classe operária ao desemprego e à miséria. Vale lembrar que os governos sociais-democratas que se instalaram no país, logo após a ditadura militar, não enfrentaram essa grave crise social, enquanto as duas experiências de governos de direita - Collor e Bolsonaro - realizaram ações de massacre aos menos favorecidos.

Esperava-se que, com as administrações do Partido dos Trabalhadores (PT), essa questão seria tratada como prioridade, numa abordagem propositiva e ampla com renda mínima, habitação, saúde e cursos profissionalizantes. Contudo, somente ofertaram-se abrigos e sopas, dentre outras medidas paliativas. A questão é complexa e precisa ser discutida com a sociedade.

Foi apresentada uma ação - ADPF 976 - para proteção da população de rua pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), pela Rede Sustentabilidade e pelo Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) junto ao Supremo Tribunal Federal, algo que, por vias jurídicas, constitui uma esperança. Sim, pois é uma tristeza perceber que a cada período eleitoral não se vê quase nenhum político assumindo compromissos em defesa da população em situação de rua.

(*) Escritor e ex-conselheiro do Conselho de Leitores de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/03/24. Opinião. p.18.


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