Por
Saraiva Junior (*)
Nunca me conformei com a
situação dos moradores de rua. Sei que não é uma questão que afeta
apenas o Brasil. Ao pesquisar, constatei que em Paris e Londres, por exemplo,
duas cidades progressistas, há um histórico antigo de pessoas em situação de rua.
Em algumas cidades dos Estados Unidos, símbolo do desenvolvimento capitalista,
atualmente existem muitas famílias que habitam parques e estacionamentos para
trailers.
Em Fortaleza, nos anos
setenta do século XX, já havia algumas pessoas a mendigar e deambular pelas
praças do centro. O poeta Mário Gomes também ocupou a Praça do Ferreira. Após
alguns anos de seca, no início dos anos oitenta, o número de pessoas que passaram
a morar nas ruas do centro da cidade aumentou consideravelmente.
Até aqui, nenhuma
novidade. Tratam-se das contradições do regime de produção capitalista que
relega a classe operária ao desemprego e à miséria. Vale lembrar que os
governos sociais-democratas que se instalaram no país, logo após a ditadura
militar, não enfrentaram essa grave crise social, enquanto as duas experiências
de governos de direita - Collor e Bolsonaro - realizaram ações de massacre aos
menos favorecidos.
Esperava-se que, com as
administrações do Partido dos Trabalhadores (PT), essa questão seria tratada
como prioridade, numa abordagem propositiva e ampla com renda mínima,
habitação, saúde e cursos profissionalizantes. Contudo, somente ofertaram-se
abrigos e sopas, dentre outras medidas paliativas. A questão é complexa e
precisa ser discutida com a sociedade.
Foi apresentada uma ação
- ADPF 976 - para proteção da população de rua pelo Partido Socialismo e
Liberdade (PSOL), pela Rede Sustentabilidade e pelo Movimento dos Trabalhadores
sem Teto (MTST) junto ao Supremo Tribunal Federal, algo que, por vias jurídicas,
constitui uma esperança. Sim, pois é uma tristeza perceber que a cada período
eleitoral não se vê quase nenhum político assumindo compromissos em defesa da
população em situação de rua.
(*) Escritor e
ex-conselheiro do Conselho de Leitores de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/03/24. Opinião. p.18.
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