Rajmund Kolbe
nasceu em 8 de janeiro de 1894, em Zdunska Wola, perto de Lodz, na Polônia, sendo o segundo filho de Juul Kolbe e Maria Dubrowska, um casal de
operários profundamente religiosos, em um lar parco em conforto material, porém
compensado na plenitude da fé e acolhedor da vontade divina.
Em 1907, quando contava 13 anos, Rajmund
Kolbe entrou no seminário dos Frades Menores Conventuais, denunciando forte
vocação religiosa. Ao fazer a sua profissão de fé, em setembro de 1910, recebeu o nome de Maximiliano Maria.
Concluídos os seus
estudos preliminares, foi ele enviado a Roma para obter doutorado em Filosofia e
em Teologia. Na Cidade
Eterna, estudou Filosofia, no Colégio
Gregoriano, de 1912 a 1915, e cursou
Teologia, no Colégio Seráfico, entre 1915 e 1919.
Em 1917, motivado por um amor incondicional à
Mãe de Jesus, fundou o movimento de apostolado mariano “Milícia da Imaculada”,
uma ferramenta, sem dúvida, colocada nas mãos da Medianeira Imaculada, para a
conversão e santificação de inúmeros fiéis.
Aos 24 anos, em
1918, foi ordenado sacerdote e, já no ano seguinte, em 1919, voltou à sua pátria, para lecionar no Seminário
Franciscano, em Cracóvia, quando, então, organizou o primeiro grupo da milícia
fora da Itália.
Com a devida permissão de seus superiores,
Maximiliano passou a se dedicar mais à promoção da milícia, movido pelo desejo
de que muitas almas conhecessem a Deus com profundidade e devotassem maior amor
à Nossa Senhora, daí começando a evangelizar, através da imprensa escrita. Em
1922, mesmo sem dispor de recursos financeiros, fundou a revista mensal
“Cavaleiro da Imaculada”, com larga aceitação, ao ponto de, em poucos anos, alcançar
uma tiragem de um milhão de exemplares. Após a veiculação dessa revista, outras
iniciativas editoriais vieram no seu encalço, como: uma revista para crianças,
sob o título “Pequeno Cavaleiro da Imaculada”; uma revista latina para
sacerdotes, a Miles Immaculatae, e um
diário que chamou de “Pequeno Jornal”, com 200 mil exemplares. O apostolado da
imprensa era, assim, o seu carisma.
No ano de 1927, ele
implantou um centro de evangelização, próximo à Varsóvia, denominado
Niepokalanow, a “Cidade da Imaculada”. O local era
um verdadeiro recanto de oração, funcionando, também, como um animado entreposto
de serviços, para aqueles franciscanos comprometidos com a evangelização, por
meio da imprensa.
A esse tempo, o Santo Padre solicitou dos
religiosos que auxiliassem os esforços missionários da Igreja. Atendendo ao
pedido do Sumo Pontífice, Maximiliano e
quatro irmãos de ordem partiram, em 1930, para o Japão, fundando, em 1931, o
mosteiro de Nagasaki, comparável ao Niepokalanow. Em meados de 1932, ele saiu
do Japão para Malabar, na Índia, instalando ali uma terceira casa Niepokalanow,
a qual não subsistiu, dada à falta de pessoal, para colaborar com a obra. Era
seu desejo rumar para os países árabes, com a intenção, também, de fundar
revistas e jornais que propagassem a devoção à Imaculada, como instrumento de
divulgação cristã. A falta de saúde, no
entanto, obrigou-o a reduzir seu trabalho missionário, retornando à Polônia,
em 1936, como diretor espiritual de Niepokalanow.
No período que vai de 1936 a 1939, início da II
Grande Guerra, Maximiliano Kolbe redobrou seu zelo no apostolado da imprensa,
enquanto se ocupava também da direção do convento e da formação de duzentos
jovens. Em 8 de dezembro de 1938, dia
de Nossa Senhora da Conceição, o mosteiro pôs no ar sua estação de radiofônica.
Em 1939, o mosteiro albergava uma comunidade religiosa com cerca de 800 homens,
tida como a maior do mundo em sua época, sendo ela completamente
auto-suficiente.
Em 1º de setembro de 1939, as tropas nazistas,
de surpresa, invadiram a Polônia, dizimando qualquer resistência. Os frades
foram dispersos e Niepokalanow foi saqueada pelos invasores. Frei Maximiliano e
cerca de 40 outros frades foram aprisionados em campos de concentração, dos
quais foram liberados na celebração da Imaculada Conceição do mesmo ano.
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S. Maximiliano Kolbe |
Em pleno
desenrolar da II Guerra Mundial, Niepokalanow abrigou considerável número de
refugiados, incluindo cerca de dois mil judeus. A Gestapo acabou por prender
Frei Maximiliano, em 17 de fevereiro de 1941, transferindo-o para Auschwitz, em
25 de maio, como o prisioneiro de nº 16.670.
Em julho de
1941, um homem, da mesma seção de Kolbe, fugiu e, em represália, os nazistas decidiram
mandar dez outros prisioneiros para uma cela isolada, onde deveriam morrer de
fome e de sede. Francis Gajowniczek, um
dos dez marcados para morrer, lamentou-se, então, pela família que deixava, queixando-se
que tinha mulher e filhos, pelo que Kolbe pediu para assumir o seu lugar, sendo
o pedido aceito, sem mais delongas.
Na verdade, o frade
Kolbe acatava o martírio para praticar, heroicamente, seu múnus sacerdotal, prestando
assistência espiritual e auxiliando a morrer, na graça de Deus, aqueles infelizes
condenados. Decorridas duas semanas, apenas quatro dos dez homens havia sobrevido,
incluindo o próprio Kolbe. Os nazistas decidiram então executá-los, aplicando-lhes
uma injeção de ácido carbólico. O calendário marcava o dia 14 de agosto de 1941,
como o da entrada de Maximiliano no céu.
O corpo de
Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas lançadas ao vento. Em uma carta que
escrevera, tempos antes, em tom de profecia, quase prevendo seu fim: “Quero ser
reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”. Tal como pensou,
assim aconteceu.
Ao final da Segunda
Guerra, teve início um movimento pró-beatificação do Frei Maximiliano Maria
Kolbe. Em 17 de outubro de 1971, ele foi beatificado pelo Papa Paulo VI. Assim
como o Mestre Jesus Cristo, ele amava
seus semelhantes ao ponto de sacrificar sua vida por eles. Nas palavras de
abertura do decreto papal, originado do processo de beatificação, Sua Santidade
desse modo se pronunciou: “Não há amor maior do que dar a própria vida pelos
seus amigos ...”.
Passados onze
anos, em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem pinçado para
morrer, e de quem Kolbe tomara o lugar, e que lograra sobreviver aos horrores
de Auschwitz, São Maximiliano foi canonizado pelo Papa João Paulo II, como
mártir da caridade. Por seu intenso apostolado, é igualmente referendado como o
“Patrono da Imprensa”.
Desde julho de
1998, em frente à Abadia de Westminster, em Londres, ergue-se uma estátua de
Kolbe, colocada ali sob as bênçãos da Igreja Anglicana da Inglaterra, integrando
um conjunto monumental que reverencia à memória de dez mártires do século XX;
dentre esses, inclui-se, meritoriamente, o polaco Rajmund Kolbe, canonizado
como São Maximiliano, para honra e glória dos altares da Santa Madre Igreja, em
todo o mundo cristão.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Integrante
da SMSL
* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São
Lucas, 9(71): 4-5, junho de 2013.