quarta-feira, 30 de junho de 2021

VIRGINIA APGAR, uma mulher fantástica

Por Alfredo Guarischi, médico

“Está tudo bem com meu filho?”. Essa pergunta foi que Virgina Apgar (1909-1974) buscou responder à todas as mães. É também o título de seu livro publicado em 1972. Apgar quando se formou em medicina, na renomada faculdade de Columbia, Nova York, em quarto lugar numa turma de 81 homens e 9 mulheres, com apenas 24 anos de idade, já tinha o diploma de Zoologia. Enfrentou dificuldades financeiras, chegando a ser catadora de gatos.

Queria ser cirurgiã, mas foi “convidada” a optar pela anestesia. Na época, apenas 4% dos médicos americanos eram mulheres e 11% delas administravam anestesia, não considerada por alguns uma especialidade médica. Mas Apgar era determinada e, aos 28 anos de idade, se tornou a primeira professora de anestesia e chefe de serviço do Columbia Presbyterian Hospital.

Na época não se tinha uma forma uniforme de descrever os problemas que ocorriam com os recém-nascidos, o que levou Apgar a estudar o desfecho de milhares partos, naturais ou cesariana. Classificou as condições clínicas dessas crianças pela Atividade (movimentação dos membros), Pulsação (coração forte), Gesticulação (reflexos ao estímulo), Aparência (rosada) e Respiração (choro) com uma pontuação de 0, 1 ou 2. Os bebês cuja soma dessas cinco condições era abaixo de 3 tinham problemas graves, e os com escore abaixo de 7 requeriam cuidados especiais.

Sua proposta pioneira foi publicada em 1953, sendo adotada em todo o mundo, contribuindo para criar rotinas de atendimento aos pequeninos. Virginia adorou o acrônimo “APGAR” (Activity, Pulse, Grimace, Appearance, Respiration) sugerido em 1961 por um aluno e que foi traduzido em diversas línguas. Muitos acabaram se esquecendo que Apgar é o sobrenome de Virginia, uma mulher que tocava violino e construiu seu próprio instrumento. Participou de três pequenas orquestras, incluindo a “Sociedade Acústica Catgut” – em homenagem ao fio usado em cirurgia. Cuidava de um orquidário, gostava de beisebol, pescar, colecionar selos e ter aulas de pilotagem. Fez mestrado em saúde pública e posteriormente foi professora de pediatria e genética. Apgar não cozinhava bem e dizia que não se casou porque não encontrara um homem que soubesse cozinhar melhor que ela.

A partir da década de 1980, vários estudos afirmaram que seu escore era falho em prever o futuro completo das crianças e que deveria ser substituído por testes mais sofisticados e custosos. A vida seguiu e recentes análises de milhões de recém-nascidos, comparando a proposta de Apgar com testes invasivos, confirmam a validade de seu método simples de avaliar o risco imediato de recém-nascidos idealizado há 65 anos por essa mulher fantástica.

Fonte: Publicado no O Globo – Sociedade – 1/05/2018.

É PRECISO VER COMO NOVAS TODAS AS COISAS EM CRISTO

Por Pe. Eugênio Pacelli SJ (*)

A Companhia de Jesus, conhecida como Ordem dos Jesuítas, inicia, a partir do dia 20 de maio de 2021 e finaliza em 31 de julho de 2022, a celebração mundial do Ano Inaciano, no qual se comemora os 500 anos da conversão de Santo Inácio de Loyola, a contar desde a agonia do seu quarto, em Loyola, até ver novas todas as coisas em Cristo, na gruta de Manresa.

2021 é o Ano Jubilar para a Companhia de Jesus, que marca a história de conversão do santo, quando ele quase perdeu a vida, depois de ser atingido na perna por uma bala de canhão.

Essa conversão não foi algo simples. Foi fruto de um processo espiritual de transformação pessoal e comunitária que, cinco séculos mais tarde, permanece servindo de reflexão para a vida de muitas pessoas.

Muitos sentem-se inspirados pela espiritualidade inaciana e se juntam aos jesuítas na Missão, como colaboradores no serviço da fé e na promoção da justiça, por um mundo reconciliado, porque querem ser "homens e mulheres para os demais e com os demais".

O lema que foi proposto para este "ano inaciano" é: "Ver novas todas as coisas em Cristo" e será guiado pelas quatro Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus: mostrar o caminho para Deus, através dos Exercícios Espirituais e do discernimento; caminhar com os pobres, os descartados do mundo, os vulneráveis, em sua dignidade em uma missão de reconciliação e justiça; acompanhar os jovens na criação de um futuro promissor e colaborar no cuidado da casa comum.

Como podemos aproveitar este período? Haverá quem aproveite para conhecer a vida do Santo e os passos que o levaram renunciar da condição de nobre cavalheiro para ser um pobre peregrino, que desejava servir a Cristo.

Conhecer as pessoas é um passo importante, mas corremos o perigo de nos colocarmos como meros telespectadores que sentem certas emoções, mas no final, continuam do mesmo jeito.

Outra possibilidade é passar de telespectadores a serem atores: será possível que o que aconteceu ao Ignacio possa acontecer comigo? Tem alguma coisa no seu caminho de conversão que me convide para sair de algumas coisas e me deitar? Será que Jesus finalmente pode ser o Senhor da minha vida? Será que ele vai querer assim? Fica a reflexão.

(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do Seminário Apostólico de Baturité.

Fonte: O Povo, de 8/5/2021. Opinião. p.18.

terça-feira, 29 de junho de 2021

“PROGRAMA MAIS JUÍZES ESTRANGEIROS” PARA O BRASIL!

Devido ao longo tempo necessário para o judiciário julgar os casos de corrupção, por uma evidente falta de juízes, as autoridades governamentais poderiam agir como fizeram com os médicos estrangeiros: Contratar juízes estrangeiros, dispensando-os do Exame de Ordem e do exame de admissão à Magistratura.

Seria ótimo que para cá viessem os juízes chineses, japoneses, árabes, que até cobram as balas para fuzilamento de condenados, cortam as mãos de ladrões etc.

Para os casos mais demorados, como o do mensalão com seus embargos e trocas de juízes, poderiam ser importados juízes cubanos e dar a eles autoridade para aplicar a mesma pena que aplicariam em Cuba, ou seja, fuzilamento para ladrões do Estado.

Esses novos juízes poderiam ser enviados para as regiões mais carentes, como Brasília, Maranhão, Alagoas, Rio de Janeiro, para avaliar os gastos da Copa do Mundo, as reformas dos estádios de futebol, as obras do PAC, "os desvios" do rio São Francisco, “mensalões”, “mensalinhos”, dinheiro na cueca, verbas e demais desvios, dos quais Lula e Dilma nunca sabem de nada.

Fonte: Internet (circulando por e-mails e iPhones). Sem autoria explícita.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

VACINAR PARA VIVER: essa é a prioridade

Por Custódio Almeida (*)

Quinta-feira, 29 de abril de 2021, o Brasil ultrapassou, oficialmente, a trágica marca de 400 mil mortos por Covid19. A situação continua muito preocupante em todo o país e a imunização é a única esperança para barrar o crescimento de infecções e mortes, e garantir a volta ao cotidiano.

A falta de vacinas é o principal problema e o tempo se torna o fator determinante. Este cenário de escassez de vacinas exige planejamento e eficiência dos governantes e dos gestores da saúde, ordenando a escolha dos segmentos da população que devem ter prioridade na escala de imunização, de acordo com o grau de risco das faixas etárias e com as funções sociais que exercem.

Vimos que foi acertada a decisão inicial de começar a vacinação pelos mais idosos e pelos profissionais de saúde que atuavam na linha de frente no combate à pandemia, pois esses eram os grupos de maior fator de risco.

Mas, agora, quando idosos e profissionais de saúde já receberam pelo menos a primeira dose da vacina, cresce a polêmica, e a disputa corporativa sobre a precedência na vacinação fica mais acirrada.

Quanto ao critério para definição das prioridades, as referências devem continuar sendo o "princípio vida" e o fator de risco.

Não está em jogo o valor social ou econômico de pessoas e profissões, mas, sim, o grau de exposição aos riscos de contaminação, de caráter involuntário e obrigatório; então, parece evidente, por exemplo, que policiais, garis, coveiros, motoristas de transportes públicos sejam segmentos prioritários.

Essa linha de argumentação continuará valendo até que o patamar de imunização ofereça segurança social e pública geral.

Nesse contexto, vale perguntar e avaliar quando chegará a vez dos trabalhadores da educação e que segmentos dessa categoria devem ter prioridade.

Precisam ser observadas as diferenças e especificidades entre a educação básica e a educação superior, que possuem níveis de autonomia distintos no processo de ensino e aprendizagem.

Com essa compreensão, o Conselho Estadual de Educação do Ceará baixou normas regularizando a possibilidade de manutenção das atividades remotas de escolas e universidades até o final de 2021, para que o processo de vacinação possa seguir seu ritmo regular, criterioso e sem atropelos

(*) Professor de Filosofia da UFC. Conselheiro do Conselho Educação do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 5/05/21. Opinião, p.19.

O ROMANCE DO NORDESTE

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Segundo o escritor Adonias Filho, não houve no Nordeste brasileiro romance modernista, mas sim o ciclo pré-modernista e o pós-modernista. O primeiro, de Franklin Távora e Domingos Olympio, colocava em plano secundário os elementos sociais e na fase principal da cena, de forma invulgar, a chamada ação episódica. O segundo, com destaque, entre outros, para a querida e incomparável Rachel de Queiroz e José Américo de Almeida, onde os elementos sociais superam a ação episódica, traduzindo com rigor o documentário. “Mas, ao fechar-se o segundo ciclo, Graciliano Ramos abre a terceira fase: acrescenta ao documentário, sem anular a irradiação social, as indagações psicológicas”. Por trás das obras dos autores mencionados, existem componentes políticos, econômicos, sociais e religiosos compatíveis com os momentos em que foram escritas. A literatura nordestina, com certeza é a que apresenta com maior realismo as características de um povo que mata e reza para não morrer. A visão do intelectual, além de ser abrangente, é caracterizada por conter, na maioria das vezes, sentimentos sociais, diferentemente, daquilo que pensam muitos tecnocratas. A produção literária do Nordeste precisa ser levada em consideração pelos formuladores de políticas econômicas. Talvez, seja mais importante a leitura de “O Quinze”, “A Bagaceira”, “Vidas Secas” e tantos outros livros do que de compêndios estrangeiros de economia política, mesmo de alguns mestres famosos como Friedman, Hansen, Acley, Leftwich etc. O Nordeste tem suas peculiaridades e também suas vantagens comparativas que precisamos transformá-las em vantagens competitivas. Da maneira como não tivemos no romance a fase modernista, segundo Adonias Filho, podemos mediante prioridades concretas para a educação e a tecnologia, entrarmos mais rapidamente na fase pós-informática. Necessitamos dar um salto de informação e de conhecimento. Por sua vez, não basta a educação formal, mas também a educação comportamental. Esta só se adquire através do saudável “vício” da leitura diversificada. Somente assim a cultura nordestina poderá ser considerada na análise da problemática regional.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 4/6/2021.

domingo, 27 de junho de 2021

LOCKDOWN DO ENSINO MÉDIO. CULPA DA CIÊNCIA?

Por Fernanda Araújo (*)

Mais um decreto de angústia para jovens. A maioria dos alunos do ensino médio está há 14 meses sem aula presencial. Anos extremamente importantes para seu desenvolvimento social, emocional e pedagógico. Neste período, eles puderam retomar as mais diversas atividades. Entretanto, diferentemente de todos os outros alunos, não puderam voltar às suas escolas.

Nos mais de 46 mil artigos sobre o tema Covid-19 e escolas, na biblioteca virtual pubmed, a ciência já nos ensina muito. Escolas com protocolos são seguras para professores, colaboradores e alunos, com baixíssimos índices de transmissão. Estudos, inclusive nacionais, mostram: abrir escolas não aumenta a taxa de transmissão e nem de mortalidade por Covid. Escolas abertas, quando há livre circulação de pessoas, não aumenta sequer o índice de mobilidade urbana nas comunidades.

Casos graves e mortalidade por coronavírus entre adolescentes são eventos raros. Este ano no Ceará homicídios de crianças e jovens mataram 300% mais que Covid. Fiocruz acaba de publicar o que já sabíamos há mais de 1 ano: crianças não são superdisseminadoras da doença, crianças e jovens dificilmente transmitem Covid para adultos e eles se contaminam geralmente em casa através um adulto infectado que mora com eles.

Grandes instituições internacionais, alertam para o risco do fechamento prolongado de escolas no Brasil. Estima-se que 29% dos jovens nunca voltarão à sala de aula. Esta ruptura pode, pela primeira vez, levar a uma regressão do nível de escolaridade dos filhos em relação ao seus pais. É a maior tragédia educacional da nossa história. Erro grave ou estratégia?

Atividades não essenciais, algumas com alto risco de contágio, já estão liberadas. Aulas para o ensino médio, não. Escolas públicas, mesmo com autorização para reabertura, se recusam a abrir as portas. Estaríamos relativizando o direito constitucional à educação presencial?

A mesma ciência que produziu vacina em tempo recorde é a que prova, com veemência, que escola com protocolo é segura para todos. 425 dias de lockdown do ensino médio não é ciência. Não culpem a ciência em vão.

(*) Médica e fundadora do Movimento Escolas Abertas.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/5/21. Opinião, p.22.

O INSTANTE E A VIDA, NA PANDEMIA

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Todos daquela turma de amigos trabalhavam excessivamente. De segunda a quinta, o almoço era um pequeno intervalo para, após o trabalho da manhã, planejarem o que fariam à tarde.

Na sexta-feira, almoçavam juntos. Era "festa". Se fossem íntimos do célebre Vinicius de Moraes, talvez pedissem ao Poetinha que no poema "O dia da criação", num jeitinho brasileiro e com as devidas vênias religiosas, a exaltação se desse à sexta, e não ao sábado. Mas o novo coronavírus tudo mudou.

Na pandemia, o brilho do melhor dia se foi. Todos sentiam falta dos alegres almoços, quando voltavam à adolescência, às vezes até à infância. E aquela sexta foi a pior. Nessa data, o irmão de um deles e cunhado de outro, após longo período entubado, perdeu para a Covid. E veio o pesar.

Poucos vencem as perdas como o notável filósofo Raimundo de Farias Brito, que, em texto memorável, apontou: "Tenho (…), nos momentos difíceis, uma resistência extraordinária. Neste ponto sinto que não sou comum. Parece-me até que a coragem cresce em mim quando as dificuldades aumentam. E quando o perigo chega ao último limite, já não me abala. Torno-me assim insensível a toda desgraça, revelando-se-me, em certas ocasiões, no fundo do ser, energias que me surpreendem."

Epicuro, ilustre filósofo do Período Helenístico, também nos conforta. Segundo o fundador do Epicurismo, cujo lema é "viva o instante", "a morte é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais" e "as pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo".

Forte amizade dificulta a aceitação da dor maior em dois amigos e uma amiga. Isso nos leva à pretensão de um ideal: conviver ao máximo com a família e os outros afeiçoados, aproveitar, moderadamente, tudo o que essa maravilhosa festa chamada vida nos oferece, procurar, nos limites, usufruir dos possíveis prazeres, comemorar os grandes momentos e respeitar os direitos de outrem, a dar a César o que é de César, porque, com exemplos que possam ser seguidos, deixa-se um legado, e a imortalidade é alcançada.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/5/21. Opinião, p.22.

sábado, 26 de junho de 2021

PESAR PELO FALECIMENTO DO DR. ATTILA NOGUEIRA QUEIROZ

Pesaroso anuncio o desaparecimento físico, ocorrido ontem (25/6/21) em Fortaleza, do Dr. ATTILA NOGUEIRA QUEIROZ, médico formado pela Faculdade de Medicina da UFC em 1961. Além da sua atuação como cirurgião geral, cursou Especialização em Administração Hospitalar e Especialização em Medicina do Trabalho.

Admitido por Concurso para Oficial Médico da Policia Militar do Ceará (PMCE) em 1962, chegou a Diretor-Geral do Hospital Geral da PMCE. Passou para Coronel Médico da Reserva da PMCE em 1985, aposentando-se após 25 anos de bons serviços prestados à corporação militar cearense.

O coronel-médico Attila Nogueira Queiroz foi um dos pioneiros da Medicina do Trabalho no Ceará e muito contribuiu para o fortalecimento dessa especialidade médica em nosso meio.

Participou da fundação da Associação Cearense de Medicina do Trabalho, tendo sido presidente dessa entidade em várias gestões e membro atuante da Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Durante muitos anos, o Dr. Attila foi médico do trabalho da COELCE.

Mantínhamos um relacionamento mútuo de amizade e respeito profissional há mais quatro décadas, desde quando o tive como um dos nossos melhores professores do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho, que coordenei na Universidade de Fortaleza em 1980.

Como fruto último dessa amizade, mesmo quando ele passava por momentos difíceis que culminaram na sua perda de um filho, Attila aceitou participar conosco da feitura do livro “Fora de Forma”, concorrendo com relatos de causos oriundos de sua vivência na caserna, obra lançada em dezembro de 2020.

Como gestor público, ele foi Diretor do Hospital de Orós de 1992 a 1995 e Secretário de Saúde de Beberibe de 2007 a 2010.

Atualmente, prestes a completar 60 anos de graduado, era médico do trabalho do Colégio Santa Cecília.

Dr. Attila, que recentemente deixou esse mundo menor, era um exemplo de integridade pessoal e de correção profissional a ser seguido por todos que o conhecia.

Que Deus o acolha entre os Seus eleitos.

Despeço-me aqui com um abraço amigo.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Médico do Trabalho - RQE Nº 589

CONVITE: Celebração Eucarística da SMSL - Junho/2021


A Diretoria da SOCIEDADE MÉDICA SÃO LUCAS (SMSL) convida a todos para participarem da Celebração Eucarística do mês de Junho/2021, que será realizada HOJE (26/06/2021), às 18h30min, na Igreja de N. Sra. das Graças, do Hospital Geral do Exército, situado na Av. Des. Moreira, 1.500 – Aldeota, Fortaleza-CE.

CONTAMOS COM A PRESENÇA DE TODOS!

MUITO OBRIGADO!

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Da Sociedade Médica São Lucas

Notas: Serão aplicadas as medidas preventivas recomendadas pelas autoridades sanitárias, sendo obrigatório o uso de máscara por todos os fiéis presentes.

Essa missa será presidida pelo Pe. Moésio Pereira, orientador espiritual da SMSL, que está se despedindo do Ceará, para cumprir o labor de missionário redentorista em Goiânia-GO, a partir de julho vindouro.

Sociedade Médica São Lucas


sexta-feira, 25 de junho de 2021

Defesa de Dissertação em Saúde Coletiva (UECE) de Renata de Almeida Lopes

Aconteceu na tarde de ontem (24/06/21), na Universidade Estadual do Ceará, via virtual pelo Google Meet, mais uma defesa de Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPSAC) da UECE.

A banca examinadora, composta pelos Profs. Drs. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, Manfredo Luiz Lins e Silva, Antônio Rodrigues Ferreira Junior e Miren Maite Uribe Arregi, aprovou a DissertaçãoAvaliação parcial de ganhos em eficiência hospitalar: um estudo aplicado em hospital oncológico de alta complexidade”, de conclusão do Curso de Mestrado Acadêmico em Saúde Coletiva, apresentada pela mestranda RENATA DE ALMEIDA LOPES.

Essa foi a nossa 203ª (duocentésima terceira) participação em banca de mestrado e com ela completamos 49 (quarenta e oito) orientados de mestrado.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Professor do PPSAC-UECE


Crônica: “Essa catapora que tá dando aí!” ... e outro causo

Essa catapora que tá dando aí!

A sobrinha Dilurde telefonou e a pessoa da prefeitura disse que tava tudo acertado: seu Dandão, avô dela, seria vacinado no posto de saúde da Sariema no dia 15, às 14 horas e 13 minutos. Recado dado. Sem entender muito bem o que se passava no mundo (meio broco, meio mouco), o velho disse "eu vou e é ligêro!". Era a primeira das duas doses da Coronavac.

- Pois é, vô! Nem dói!

- Hômi! Diabo é uma dose pra quem já bebeu o que eu bebi de Douradinha!

- Brinque não, seu Dandão! E num deixe ninguém chegar perto do senhor!

- Quem é o doido que fica perto dum véi liso? Essa catapora que tá dando no povo aí é osso pra póbi!

- E quando for se vacinar, lembre de botar o elástico dos seus óculos (fundo de garrafa modelo telescópio Hubble), mode não cair!

Dandão, 93 anos, confunde-se e às 13 horas e 15 minutos do dia 14, sem combinar com a neta, está no portão do posto da Sariema. É o segundo da fila. Conversa vai, conversa vem e pedem que volte no dia seguinte, data correta da vacinação. O velho embrabece; começa uma araca. Polícia é chamada. A assistente social chega enfim para acalmar a zanga geral.

- Sua idade, seu Gildásio Silva Moura?

- Sou do 28! E pode me chamar de Dandão, seu criado!

- Vixe! - assistente abismada com a data de nascimento. - Tá na peinha de nada, ele! Vacinem ligeiro!

- Deitado! Vacina nos quartos!

- Pois tire os óculos...

Pronto, Dandão recebe a primeira dose do imunizante. Volta pra casa. Meia hora depois começa a sentir vertigem, "vista truva", cansaço na croa do quengo, distensão no pau da venta, sobrancelha variando, taba do queixo vibrando, vontade de se lascar, gastura na bolota dos ói. Pede socorro a Dilurdes.

- Tô prejudicado! Fui tomar a vacina indagorinha e o telhado tá rodando! Será efeito colateral?!?

- Vô!!! Era amanhã, e o senhor já foi hoje tomar a vacina, sozinho! Agora o jeito é telefonar pra lá!

A moça do posto da Sariema informa que seu Dandão deve voltar imediatamente, para analisarem o caso. Estranho, primeira reação adversa no planeta. Foi na garupa duma bicicleta até a Sariema. Está frente a frente com a enfermeira que lhe aplicou a abençoada vacina. Ao vê-lo, a devotada e sensível profissional, mui gentilmente...

- Seu Dandão, tome seus óculos, o senhor esqueceu na maca!

Óculos fundo de garrafa - modelo telescópio Hubble - na cara e súbito o homem sente o mundo normalizar.

- Passou, fia! A vacina da catapora começou fazer efeito!

O último Bastião

Quando o Poeta dos Cachorros me ligou choroso para contar da morte de Tonico Bastião (Bastiãozim), derradeiro filho vivo de finada Corina Sebastião, lembrei-me de Arcádia, "região mítica e paradisíaca da Grécia antiga, onde não havia crimes, porque não havia inveja. Não sofria com as guerras e dissensões que destruíam as polis helênicas. Era o último bastião da beleza, da justiça e do saber". Do Poeta pesaroso ouço atento o que há pouco se passou fatal no solar dos Sebastiões:

- E dos seis meninos de finada Corina, o derradeiro Bastião se enterrou ontem...

Em tempo: Os seis Bastiões eram Joca Bastião, Neto Bastião, Luquinha Bastião, Moca Bastião, Quinca Bastião e esse aí que bateu as botas - Tonico...

Fonte: O POVO, de 18/2/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

COOPERAR OU MORRER, O MUNDO EM TESTE COM A COVID-19

Por Marcus Vinicius Amorim de Oliveira (*)

Cooperar ou morrer. Ulrich Beck, muito conhecido pela teoria do risco nas sociedades pós-industriais, colocou desse modo, sem tirar nem pôr, o desafio dos Estados-nações diante da mudança climática.

Ele defende o reconhecimento do fato de que o princípio da soberania, independência e autonomia nacionais é um obstáculo à sobrevivência da humanidade e que a "declaração de independência" precisa ser trocada pela "declaração de interdependência".

O texto foi publicado em 2016, pouco depois de sua prematura morte, e nele se toma como exemplo outro risco global, para o qual Harari acredita que a pandemia de Covid-19 servirá como teste e que nos aponta a importância das escolhas políticas.

De fato, a capacidade de cooperação da humanidade está sendo posta à prova. Temos visto muitos acertos mas também outros tantos erros nas escolhas feitas.

É que, apesar dos inegáveis avanços do conhecimento científico, ninguém tem a receita infalível para lidar com a pandemia. Os vírus, afinal, sofrem mutações e a ciência mesma, que tem se mostrado ainda mais importante, é feita de tentativa e erro.

Esta pandemia é um risco global que exige coordenação e cooperação no mesmo nível, uma situação talvez inédita no mundo.

Dá para perceber claramente que há aqueles que erram tentando acertar e aqueles que erram porque querem mesmo errar, visando outros interesses, dos geopolíticos até os mais mesquinhos.

E especialmente por aqui, como anda faltando racionalidade comunicativa, o que observamos é o reavivamento de uma polarização ideológica absurda - logo, o inverso daquilo de que mais precisamos - de tal maneira que nenhum dos lados que ora se antagonizam alcança o que pretende.

No Brasil, quem almeja confinar as pessoas para conter a infecção não recebe suficiente adesão delas; e quem quer deixar rolar para a economia não parar de girar tampouco consegue evitar sua desaceleração.

Faltam-nos liderança e confiança uns nos outros para superar essa falsa dicotomia. Passou da hora do bom senso e do diálogo voltarem à cena política. Enquanto isso, à míngua de cooperação, seguimos todos morrendo. 

(*) Promotor de justiça.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/04/21. Opinião, p.20.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

IMPACTO DA VACINAÇÃO NAS CIDADES TURÍSTICAS

Por Eduardo Bismarck (*)

Iniciar a vacinação contra a Covid-19 foi uma das grandes etapas para que a normalidade fosse retomada gradualmente.

Entretanto, enquanto alguns países como Israel, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos estão na frente no número de doses administradas, o Brasil enfrenta uma larga dificuldade para imunizar a população, seja por escassez de doses, seja por falta de logística.

Diante desse contexto, a sustentabilidade econômica do turismo cearense corre o risco de permanecer um enorme limbo.

Inclusive, há agências turísticas divulgando "pacotes" combinando viagens e vacinações, evidenciando o chamado "turismo das vacinas" em destinos como a Flórida e a Califórnia, nos EUA, assim como outros destinos que aceitam vacinar visitantes.

No entanto, o Brasil segue sem perspectivas para a vacinação em massa, causando um grande impacto no turismo e na economia de praias mundialmente conhecidas como Canoa Quebrada e Jericoacoara, principais pontos turísticos do Estado.

Apesar desse cenário, o turismo no Ceará apresentou alta no primeiro mês de 2021, é o que revela a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados apontaram que o Estado registrou crescimento de 1,8% em janeiro de 2021 ante dezembro do ano passado. Entretanto, o setor acumulou uma leve retração, de 0,5%, para a receita nominal durante o período.

As medidas de suporte econômico aos trabalhadores e empresários do segmento turístico, como a recém-inclusão deles entre os beneficiários do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (PERSE), a partir de uma emenda ao relatório proposta por mim, são de extrema importância.

Assim como a manutenção de todos os cuidados e protocolos, para que a crise sanitária não agrave ainda mais a realidade do turismo.

Porém somente estratégias eficazes para agilizar a vacinação em massa nesses destinos resolve a situação, do contrário o turismo continua perdendo e a economia perde mais ainda. Vacina no braço, comida no prato! Já! 

(*) Deputado federal.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/04/21. Opinião, p.20.

terça-feira, 22 de junho de 2021

IMPACTOS DA PANDEMIA PARA A ECONOMIA

Por Desirée Mota (*)

Em março de 2020 foi iniciado um período de tensão marcado pela pandemia de Covid-19 que mudou o padrão de funcionamento da sociedade incentivando a maior parte dos negócios a reagirem aos desafios impostos pela determinação do isolamento e distanciamento social.

Afetou a vida de milhares de pessoas, provocando inúmeros impactos sociais e também em setores econômicos, principalmente em países subdesenvolvidos como é o caso do Brasil.

As micro e pequenas empresas (MPE) que representam a maioria dos estabelecimentos no país são mais suscetíveis às oscilações do mercado e a conjuntura econômica fragilizada foi fortemente afetada.

Em janeiro de 2021 esses empreendimentos responderam por 75% dos empregos formais e por 27% de todo o PIB nacional. Mais de 15 mil MPEs no Ceará fecharam as portas, durante a pandemia, segundo dados do Sebrae-Ce.

Muitas pessoas não conseguiram manter-se em seus postos de trabalho ou tiveram parte da sua renda comprometida.

desemprego no País mostrou-se mais acentuado, chegando a uma taxa de desocupação de 14,2% no trimestre encerrado em janeiro de 2021, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

As pessoas que conseguiram manter seus empregos tiveram que enfrentar modificações na convivência em seus trabalhos, visto que a aglomeração de pessoas possibilita o aumento de contágio do novo Coronavírus.

Além disso, trouxe novas formas de consumo da população, gerando reflexos nas vendas e no faturamento das empresas que tiveram que buscar estratégias para comercializar seus produtos e garantir renda para a manutenção de seus negócios durante e após a pandemia.

Diante da situação econômica de crise, atitudes empreendedoras surgem como alternativa tanto para as pessoas que ficaram fora do mercado de trabalho ou que não conseguiram se manter nos seus postos de trabalho.

As habilidades e a criatividade das pessoas, juntamente com o uso de ferramentas digitais caracterizou-se como uma saída inteligente utilizada para manter os serviços em funcionamento.

O atendimento e as vendas também foram direcionados para o ambiente virtual, através do uso de redes sociais e aplicativos desenvolvidos para o próprio negócio ou migraram para plataformas que permitam o serviço de delivery. Foi a vez do e commerce expandir.

(*) Economista.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/04/21. Opinião, p.23.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

CAMILO E A COVID-19, POR QUE ELE INSISTE EM ERRAR?

Por Fábio Gomes de Matos e Sousa (*)

O governador Camilo Santana após um ano de pandemia ainda não aprendeu o que funciona no combate ao vírus Sars-CoV-2 que provoca a Covid-19. Estamos em março de 2021 em uma situação pior do que março de 2020.

Por quê? Vejamos: ele insiste em perseguir as pessoas jurídicas do Estado do Ceará. Fica claro, entretanto, que não são lojas, nem comércios, que transmitem o vírus e sim pessoas. Pessoas estas que estão liberadas para ir para farmácias, construções e supermercados tanto colaboradores quanto clientes espalhando o vírus se não estiverem usando máscaras. Quanto tempo levará o governador para entender isso.

Sim, pessoas físicas é que são responsáveis pela disseminação do vírus e aumento do número de infectados.

E o que o governador tem feito? Insistido em fechar o Estado. Se funcionasse, já estaríamos colhendo os frutos desta política.

Sugestão governador: use sua polícia para obrigar as pessoas a usarem máscaras que, tirando a vacinação, é o meio mais eficaz de evitar a transmissão do coronavírus.

Governador dê um passeio pela cidade e observe em todos os bairros, muitas pessoas circulando sem máscara ou usando de forma inadequada.

Se o efetivo de policiais estaduais e guarda municipal se dedicasse a orientar a população e distribuir máscaras e álcool gel certamente seria mais eficaz e barato.

Lembre-se que o controle com relação ao HIV ocorreu com educação aliada à distribuição gratuita de preservativos e não com a proibição de relações sexuais.

Faça como na Espanha que multou o jogador da seleção brasileira Marcelo em 18 mil reais por ele ter ido à praia sem máscara.

Após um ano de pandemia o Brasil acumula 386.000 mortos e o Ceará tem 15.000, ou seja, cerca de 1.500 mortos por um milhão tanto para o Brasil quanto para o Ceará. Enquanto o Japão tem 73 mortos por milhão (Fonte: www.worldometers.com).

Pergunta básica porque nós temos 20 vezes mais mortos por milhão de habitantes do que o Japão?

Resposta também é elementar. No Japão, máscaras são obrigatórias, repito para senhor Camilo ouvir OBRIGATÓRIAS. Pare governador de perseguir quem trabalha e busque punir quem não respeita a regra sanitária mais valiosa nesta epidemia: Uso de Máscaras.

(*) Médico psiquiatra. PhD.Professor titular de Psiquiatria da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/04/2021. Opinião. p.23.

EMPREGO, EMPREGO E EMPREGO

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Eis o início histórico de um plano. Há quase 43 anos, em outubro de 1978, fui convidado pelo então senador Virgilio Távora para coordenar a elaboração do II Plano de Metas Governamentais (II Plameg), uma vez que ele iria assumir, pela segunda vez, o Governo do Estado do Ceará, em 15 de março de 1979. Minha indicação ao senador foi feita pelo professor Mário Henrique Simonsen e a apresentação ocorreu no gabinete do então presidente Nilson Holanda, do Banco do Nordeste do Brasil, onde eu chefiava a Coordenadoria de Planejamento Integrado daquela Instituição de desenvolvimento. A apresentação foi formal e rápida. O convite foi feito e aceito. Passaram-se alguns segundos de silêncio. Em seguida, querendo demonstrar conhecimento, esperando que ocorresse um debate sobre as condições socioeconômicas do Estado do Ceará, perguntei ao experiente e competente político quais os principais objetivos e prioridades do seu futuro governo. Olhou para mim de forma séria, sem esboçar qualquer sorriso, e disse, com sua voz característica e em mensagem telegráfica: “São três: emprego, emprego e emprego”. Continuou: “Alguma dúvida, procure-me nos telefones cujos números estão neste papel. Obrigado. Boa sorte.” Nosso primeiro encontro não durou cinco minutos. Fiquei preocupado. No entanto, disse comigo mesmo: Vou mostrar que farei um bom trabalho. Convidei técnicos, professores e especialistas do próprio Estado, da UFC e do BNB. Começamos o trabalho e, em nenhum momento, o futuro governador VT (como era chamado) deixou de participar das fases decisivas da elaboração do II Plameg. Era, além de excelente político e técnico, um homem de boa formação intelectual. Realmente, o “emprego” foi objetivo básico de seu governo. As ações de interiorização do desenvolvimento bem como a consolidação do polo industrial de Fortaleza, permitiram, em termos relativos, o maior índice emprego/população economicamente ativa alcançado até hoje no Ceará. Estas palavras mostram a larga visão de VT, pois conseguir postos de trabalho tem sido um desafio crescente não só para o Estado do Ceará, mas principalmente para o Brasil.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 28/5/2021.

domingo, 20 de junho de 2021

CIÊNCIA E SENTIDO NA PANDEMIA

Por André Haguette (*)

A ciência nos aproxima, pelo menos provisoriamente, de algo que podemos considerar a verdade, embora ela seja incapaz de nos fornecer os significados que precisamos para decidirmos como viver nossa vida.

Esses significados tão necessários – sentido da vida, do trabalho, do amor, do sofrimento, da história e, mais do que tudo, o sentido da morte, da minha morte – esses significados escapam não somente ao escopo da ciência como a sua metodologia.

O conhecimento científico é de difícil definição porque as ciências diferem entre si por seus objetos, seus instrumentos, suas metodologias. Mesmo assim é possível dizer que elas se caracterizam por progredirem pela "organização coletiva de controvérsias científicas.

Elas não são proclamações individuais...Nas palavras de Popper, elas procedem da cooperação amigavelmente hostil de cidadão da comunidade do saber", escreve Étienne Klein.

Entre outras palavras, indivíduos ou mesmos equipes de indivíduos pesquisam e publicam seus achados, mas é a comunidade científica que os promulga como válidos ou não.

Esse conhecimento reconhecido, porém, nunca é definitivo; fica sempre provisório na espera de denegação comprovável de suas teses e argumentações.

Embora ele seja um saber que se renova sem cessar em busca de mais verdade, o conhecimento científico está em toda parte da vida cotidiano contemporânea: alimentação, medicina, transporte, comunicação, segurança etc.

A ciência progride sem jamais chegar a um término. Mesmo assim, ela é nosso passaporte contra a não-verdade, o charlatanismo, o obscurantismo e o fanatismo da opinião que se faz certeza quando mil vezes repetidas em mídias sociais.

A opinião foge da controvérsia e da prova; ela escapa pelo vezo da subjetividade e do capricho individuais, não buscando o aval de uma comunidade crítica de pesquisadores.

Não possui a humildade da dúvida e da busca. Ela se basta a si mesma na falsa certeza de possuir a verdade das coisas na razão inversa de sua própria ignorância.

Mas se o saber científico representa muito, ele não é tudo. Ele tem a virtude de nos informar, de nos esclarecer, não de decidir por nós. Se ele apresenta cenários, são indivíduos e grupos que decidem em função dos sentidos que dão a suas ações.

Nisso a ciência não pode ajudar; ela deixa ao bel prazer de cada um a responsabilidade de suas escolhas. Saber não significa agir; agir pressupõe um sentido, e é justamente aqui que a vida humana adquire sua dramaticidade e até a sua tragicidade.

Cada indivíduo com os outros há de traçar seu próprio caminho. Nisso reside a solidão de sua liberdade.

O tempo sombrio da pandemia expõe a necessidade de fugir do achismo sem que a ciência tenha dominado a Covid-19, margem de incerteza que não significa ausência de verdade, mas verdade em progresso.

Por outro lado, fica clara a necessidade de cada um dar um sentido a sua vida como à vida da coletividade.

Eis a encruzilhada na incerteza: escolher o mais humano, o menos letal ou apostar no risco, na insensatez da ignorância e da opinião. O conhecimento científico propõe explicações, os indivíduos dispõem de sua própria sorte e da dos outros. 

(*) Sociólogo. Professor aposentado da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/04/21. Opinião, p.23.

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA (PÓS) PANDEMIA

Por Sofia Lerche Vieira (*)

A pandemia tem suscitado um debate fecundo sobre o presente e o futuro da educação. Em oportunidades anteriores nos detivemos sobre o tema, enfatizando a urgência de conceber e implementar políticas para fazer face aos abismos provocados pela crise sanitária, de modo especial junto àqueles que mais precisam da escola - as camadas vulneráveis da sociedade brasileira.

Tais preocupações encontram respaldo em pesquisas recentes, que destacam o aprofundamento das desigualdades como um dos maiores problemas a enfrentar, com potencial de perdas econômicas irrecuperáveis.

Segundo estudo do Banco Mundial (mar/2021), com foco na educação na América Latina e no Caribe, "simulações recentes sugerem que a pobreza da aprendizagem pode crescer em mais de 20%, o que equivale a um aumento de cerca de 7,6 milhões de pobres de aprendizagem".

Além disso, "mais de dois em cada três estudantes no primeiro ano do ensino médio ou nos últimos anos do ensino fundamental não serão capazes de entender um texto de tamanho moderado".

Assim, "os prejuízos na aprendizagem podem traduzir-se em um custo econômico agregado de 1,7 trilhão de dólares, equivalente à 10% do total dos ganhos na linha de base".

Na mesma direção, estudo da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia (mar./2021) destaca que os custos socioeconômicos decorrentes do fechamento das escolas serão extremamente elevados.

Do mesmo modo, os "choques negativos sobre a educação" terão significativos "rebatimentos sobre o bem-estar social".

Enquanto esses e outros fóruns de debate reverberam os efeitos e desafios da crise, não tem sido possível identificar um protagonismo do Ministério da Educação nesta matéria.

Ao abdicar de seu papel na coordenação da política nacional de educação o governo federal relegou aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios esta tarefa.

E como não existe vácuo político que não seja ocupado, estes e outros atores começam a imprimir um desenho novo no federalismo brasileiro, com implicações sobre as políticas a desenvolver no contexto da pós-pandemia. Tema para uma próxima reflexão. 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/04/21. Opinião, p.22.

sábado, 19 de junho de 2021

COVID-19 E O CUSTO PERVERSO DA EXCLUSÃO SOCIAL

Por Ariosto Holanda (*)

A falta de saneamento básico, habitação, trabalho e educação de qualidade para a população de baixa renda, as agressões ao meio ambiente decorrentes do uso indiscriminado de fertilizantes e inseticidas, o lixo não tratado e as ações de globalização resultam nessa exclusão social injusta e grave.

Os pobres sem acesso à nutrição adequada, à água potável, à habitação, ao saneamento básico e sem recursos para comprar material de limpeza contraem doenças mais facilmente. O sistema de saúde em colapso com falta de leitos, de profissionais e de UTIs tornam a situação catastrófica.

E depois? Certamente os problemas humanitários e ambientais vão se tornar urgentes. Um novo mundo surgirá exigindo estratégias voltadas para o desenvolvimento humano (educação, saúde e trabalho).

Temos de discutir o que fazer com milhões de trabalhadores cuja força de trabalho, com a chegada da inteligência artificial, será menos exigida.

Temos de promover, a partir das instituições de ensino superior, um grande programa de extensão voltado para a transferência de conhecimentos para o setor produtivo e para os pequenos negócios.

A saúde precisa ser repensada. As doenças só serão combatidas se houver eficientes agências reguladoras de saúde pública. A prevenção deve ser a prioridade máxima. As suas ações devem começar na escola.

Some-se a isso, um fato que me deixou estarrecido e revoltado, quando lendo a revista American Scientific Nº 14, de julho de 2003, na página 44, me deparei com a seguinte nota: "Em 12 de março de 2003 a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta global sobre o aparecimento de uma nova doença com alto potencial de infectividade e mortalidade".

OMS estava se referindo à Síndrome Respiratória Aguda Grave - Sars - e alertava as autoridades mundiais sobre a possibilidade de uma pandemia.

Observem, que esse alerta foi feito há 18 anos e nenhuma medida foi adotada. E o que é pior, há notícias de doenças como malária, varíola, febre amarela, tuberculose e outras que estão voltando.

Fica aqui um alerta para o governo: "VACINE JÁ A POPULAÇÃO" ou teremos, em breve, uma explosão de pobres e uma revolta incontrolável de famintos".

(*) Professor, engenheiro e ex-deputado federal.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/04/21. Opinião, p.19.

A PANDEMIA E A RECUPERAÇÃO ECONÔMICA

Por Edilberto Carlos Lima Pontes (*)

Quem acompanha o debate internacional sobre o papel do governo durante a pandemia e, principalmente, as ações para o pós-pandemia, fica intrigado de como ele está dissociado do que ocorre no Brasil.

Enquanto nos Estados Unidos e na União Europeia o tema dominante é o substancial pacote de gastos para reativar a atividade econômica, que foi fortemente impactada pelas medidas para conter a disseminação do vírus, no Brasil o debate majoritário é sobre o teto de gastos, os limites de endividamento e a austeridade fiscal.

É como se existissem duas teorias econômicas: uma que se aplica aos países avançados, que fez Joe Biden anunciar investimentos de mais de um trilhão de dólares, e outra para o Brasil, que em 2021 não prevê nenhuma sinalização para alavancar a infraestrutura do País, compensar as perdas dos Estados e Municípios com a queda de arrecadação e promover melhoria significativa nas políticas sociais. Até o Censo 2021 foi cancelado para conter despesas.

De fato, o debate sobre o papel do governo é antigo e tem contraposto correntes diferentes de economistas.

O mais famoso envolveu John Maynard Keynes, que defendeu um amplo programa de gastos públicos para retirar as economias da grande depressão dos anos 1920, o que era combatido pelos economistas clássicos, que defendiam que o próprio mercado se autoajustaria, dispensando a participação do setor público.

As ideias de Keynes prevaleceram naquela época e foram reafirmadas após a crise do subprime em 2007/08, que ameaçavam levar a economia mundial ao colapso.

É claro que cada país tem possibilidade de reação diferente e isso depende de diversos fatores, como a capacidade de endividamento, a credibilidade das instituições, o potencial da máquina arrecadadora, o nível de reservas internacionais, as expectativas de inflação, entre outros.

Mas um diagnóstico equivocado só aprofundará a crise, postergando a recuperação. Regras fiscais são importantes, mas fundamentalismos e falta de percepção para as exigências do momento e para a imperiosa necessidade de adaptação às circunstâncias podem ser nefastos.

(*) Conselheiro do TCE Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 1/05/21. Opinião, p.20.